Povos Indígenas têm transformado as paisagens Amazônicas há milhares de anos por meio de um manejo que resultou em alteração da composição, diversidade e abundância de espécies da floresta. Estas transformações estão associadas a aspectos socioculturais que incluem cosmologias, relações sociais, preferências e conhecimentos ecológicos e têm sido documentadas principalmente na beira de grandes rios. Entretanto, como tais aspectos socioculturais influenciam a transformação das paisagens, e qual a extensão da influência dessas transformações nos padrões ecológicos da floresta Amazônica, são perguntas pouco exploradas. Esta tese propôs contribuir com a exploração dessas perguntas por meio de quatro capítulos. O capítulo 1 aborda o contexto geral das relações entre aspectos socioculturais e ecológicos em paisagens manejadas por Povos Indígenas na Amazônia. O capítulo 2 mostra que diversos padrões ecológicos são influenciados por um manejo indígena que ocorre dentro de um sistema que inclui visões de mundo, normas, práticas e conhecimentos. O capítulo 3 mostra que Povos Indígenas com diferentes socioculturas têm promovido paisagens com diferentes composições e abundâncias de espécies arbóreas, e que essa promoção tem ocorrido tanto na beira de grandes rios quanto nas regiões interfluviais da Amazônia. O capítulo 4 apresenta um estudo de caso entre os Zoé, no Estado do Pará, Brasil, que mostra que seus aspectos socioculturais influenciam a promoção de biodiversidade local ao mesmo tempo em que aspectos ecológicos influenciam a cosmologia Zoé. Os resultados desta tese podem contribuir com informações importantes para a conservação biocultural da Amazônia. Propõe-se aqui que a diversidade cultural de Povos Indígenas e seus conhecimentos associados está relacionada com padrões ecológicos da floresta, de modo que essa sociodiversidade é elemento crucial para o manejo adequado e proteção da biodiversidade da floresta Amazônica.

Indigenous Peoples have been transforming Amazonian landscapes for thousands of years through management practices that have resulted in changes in species composition, diversity and abundance of the forest. These transformations are associated with sociocultural aspects that include cosmologies, social relationships, preferences and ecological knowledge, and have been documented mainly near large rivers. However, how such sociocultural aspects influence landscape transformations, and what is the extent of the influence of such transformations in ecological patterns of the Amazon forest, are questions that are little explored. This Thesis proposed to contribute to the exploration of these questions through four chapters. Chapter 1 addresses the general context of the relationships between sociocultural and ecological aspects in landscapes managed by Indigenous Peoples in Amazonia. Chapter 2 shows that different ecological patterns are influenced by indigenous management, which occurs within a system that includes worldviews, norms, practices and knowledge. Chapter 3 shows that Indigenous Peoples with different sociocultures have promoted landscapes with distinct compositions and abundances of tree species, and that this promotion has occurred both near large rivers and in interfluvial regions of Amazonia. Chapter 4 presents a case study among the Zoé, in Pará State, Brazil, which shows that their sociocultural aspects influence the promotion of local biodiversity at the same time that ecological aspects influence Zoé cosmology. The results of this Thesis can contribute with important information for biocultural conservation in Amazonia. It is proposed here that the cultural diversity of Indigenous Peoples and their associated knowledge is related to the ecological patterns of the forest, so that this cultural diversity is a crucial element for the management and protection of the biodiversity of Amazonia.