Durante a evolução do gênero Homo, a pelve óssea acomodou, em sua morfologia, uma série de novas e potencialmente conflitantes demandas funcionais, relacionadas à evolução do bipedalismo, à termorregulação e ao parto. Pelo caráter único do parto humano em relação ao de outros apes, com um mecanismo de rotação fetal e uma altíssima proporção cefalopélvica, a evolução do canal de parto em Homo sapiens ainda é matéria de investigação; assim como sua possível integração com outras partes do esqueleto, especialmente a caixa craniana, que sofreu um aumento dramático de tamanho durante este processo. Nesta pesquisa foi realizada uma análise de variação da forma da pelve em uma amostra de tomografias computadorizadas, com o objetivo de quantificar e descrever a variação da forma da pelve na amostra por métodos de morfometria geométrica e também de testar estatisticamente a possibilidade de haver integração entre a forma da pelve e outras dimensões do corpo, especialmente da cabeça. Uma análise paralela foi feita na superfície das reconstruções tridimensionais dos ossos pélvicos, com o objetivo de identificar e quantificar pelvic features, que são pequenas marcas nas superfícies articulares da pelve hipoteticamente associadas a episódios de gravidez e parto, de modo a checar a viabilidade da visualização destas marcas osteológicas em contexto virtual. Essas marcas estão supostamente relacionadas à ocorrência de eventos de gravidez e parto, mas nunca houve consenso entre autores sobre esta relação, então a associação entre a ocorrência das marcas e as variáveis sexo e idade foram testadas neste estudo. Exceto por uma das pelvic features (o sulco preauricular), cuja ocorrência está estatisticamente associada ao sexo feminino, as outras marcas testadas não apresentaram associação com sexo ou idade, sugerindo que a sua ocorrência não deve estar relacionada somente a eventos de parto e gravidez. As marcas demonstram, porém, ser adequadamente reconhecíveis em reconstruções tridimensionais de ossos. Os resultados obtidos para a variação de forma geral da pelve na amostra e sua possível integração a outras partes do esqueleto corroboram a hipótese de que a forma pélvica é primariamente associada à variável sexo, presumivelmente devido à sua função obstétrica, mas nenhuma outra associação clara pôde ser observada entre a forma da pelve e outras dimensões corporais, exceto por aquelas que também variam de acordo com o sexo, como a estatura e o tamanho do centroide do crânio.

The bony pelvis has accommodated a series of new functional demands during the recent evolution of the genus Homo, related to thermoregulation, birth, bipedal locomotion, upright posture, and its actual morphology supposedly reflects all of them. The relationship between birth and pelvic morphology, however, is of special interest due to some unique features of the species, like the high cephalo-pelvic proportion and the rotational mechanism of birth, just as much as the possibility of integration between the pelvis and other parts of the skeleton, especially the crania, that has dramatically expanded during this process. In this research, I analyzed the variation of shape in the pelvises of men and women in a sample of CT scans through geometric morphometrics methods. The objective was to understand the variation of shape within the sample and to test for statistical covariations between pelvic shape and other body dimensions, especially head shape and size. A parallel analysis was carried out with the tridimensional reconstructions of the pelvises, with the objective of identifying and quantifying pelvic features, which constitute minor changes at the surfaces of some ligaments attachment sites, in order to check if they are visible in virtual reconstructions. These changes, called pelvic features, are supposed to have a relationship with birth, but authors have not been unanimous about that, so their possible association to sex and age was statistically tested in this study. Except for one pelvic feature (the preauricular sulcus), whose occurrence is statistically related to the female sex, other features showed no relationship with sex or age, suggesting that their occurrence may not be related to birth or pregnancy only. They seem, however, to be fairly detectable in virtually reconstructed bones. The results obtained for pelvic shape and its possibilities of integration with the rest of the skeleton support the hypothesis that the pelvis shape is primarily associated with sex, presumably because of its obstetric function, but there is no clear association between pelvis shape and other body dimensions, except for those that also vary according to sex, like stature or cranial centroid size.