O objetivo da pesquisa foi analisar o trabalho de professores de educação física, buscando-se compreender, no plano simbólico da cultura, a lógica que ordena o sistema de representações que eles possuem sobre o corpo, lógica esta que suporta sua prática profissional. Para isto, foi utilizado um referencial metodológico antropológico, considerando o corpo como expressão da cultura e os professores de educação física como agentes sociais que atuam sobre e através dos corpos dos seus alunos. Tratando-se de uma pesquisa qualitativa, foram entrevistados 20 professores de educação física da rede pública estadual de ensino de 1 grau, lotados em escolas do município de São Paulo, pertencentes à 14a. Delegacia de Ensino. Concluiu-se que os professores consideram os corpos de seus alunos como matéria-prima sobre a qual se deve aplicar as técnicas julgadas por eles como as mais eficientes para preparar futuros cidadãos. Tendo como pressuposto a ideia de um corpo naturalizado, livre, despojado de técnicas, compreendem-no como aprendiz de comportamentos sociais necessários para a vida em sociedade, sendo este aprendizado o objetivo de sua prática. Assim, os professores acabam por conceber sua prática como uma espécie de mediação entre a ordem da natureza e a ordem da cultura e da vida em sociedade. Trabalhando justamente na transição de uma ordem para outra, eles procuram transformar o corpo cidadão, inscrevendo a cultura sobre um corpo tido como exclusivamente biológico, e, assim, conferindo finalidade ao corpo natural e sem técnica. Para realizar essa mediação, os professores recorrem às técnicas, destacando-se, entre estas, as esportivas. O aluno que melhor incorporar as técnicas esportivas ensinadas terá mais condições de enfrentar o mundo. Compreende-se, assim, porque as técnicas são utilizadas de forma padronizadas, rígida e instrumental. O que se pretende é um corpo eficiente, tecnicamente perfeito, no sentido de cumprir as regras sociais, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade através da construção de bons cidadãos. A partir da discussão da função do professor de educação física na escola, foi observado também o caráter diferencial que este componente curricular possui no contexto escolar. Essa diferença é incorporada pelo professor no seu discurso, no seu comportamento, no seu local de trabalho, no seu relacionamento com os alunos e nas atividades extracurriculares que realiza. No entanto, se, por um lado, a educação física se coloca como diferente das outras disciplinas escolares, assumindo um papel especial, por outro lado, sua prática curricular cotidiana parece apresentar dificuldades em lidas com as diferenças reais apresentadas pelos alunos. Este trabalho sugere que a educação física escolar considere o princípio antropológico da alteridade, reconhecendo as diferenças entre os alunos e garantindo o direito de todos à sua prática

The research objective was to analyze the work of physical education school teachers in order to understand at cultures symbolic level the logic that orders their system of representations of the body and supports their professional practice. For this reason anthropology was used as a methodological reference, considering the body as an expression of culture and physical education teachers as social agents who act upon and through their students bodies. As this was a qualitative research, 20 physical education teachers were interviewed, all of whom were assigned to schools in the official primary education system (grades one through eight) in São Paulos fourteenth education district.. The conclusion reached was that teachers consider their students bodies as raw-material upon which should use the techniques that they deem most efficient for training future citizens. Presupposing the idea of a naturalized, free body divested of techniques, they understand it as an instrument for learning social behaviors necessary for life in society, this learning experience being the objective of their practice. Thus, teachers end up conceiving their practice as a sort of mediation between the order of nature and the order of culture, that is, social life. Working precisely in the transition from one order to the other, they attempt to transform the raw-material body into the citizen body, seen as exclusively biological, thus conferring finality upon the natural body deprived of technique. In order to realize such mediation, teachers resort to techniques, with emphasis, among those, upon the ones that are sportive. The student who best incorporates the sportive techniques taught will be in the best position to face the world. It is thus understandable why the techniques are used in a standard, rigid and instrumental manner. What is intended is to achieve an efficient, technically perfect body capable of to complying with social rules, thus contributing to the development of social life through the construction of good citizens. Based on the discussion of the physical education teachers role in the school, the differential nature of this curriculums component was also observed. Such difference is incorporated by the teacher into his discourse and behavior, and in his relationship with his students, both at the work place and in extracurricular activities. Nevertheless, if physical education is seen as different from other disciplines, taking on a special role in the school, on the other hand its daily practice as part of the curriculum seems to present difficulties in dealing with the real differences presented by the students. This research suggests that physical education in school consider the anthropological principle of alterity, recognizing differences among students and guaranteeing the right of all to its practice