Esta pesquisa é um estudo da trajetória de Maria Lídia Magliani, artista contemporânea afro-brasileira e multimídia que construiu uma carreira longa, internacional, cuja relevância é pouco lembrada na História da Arte brasileira recente. Investigar essa trajetória é uma forma de contribuir para o debate sobre o apagamento histórico de sujeitos cujas produções artísticas possuem pouco espaço na memória social da história da arte brasileira recente. A organização da trajetória de Magliani, que passa pelo processo de educação formal e profissionalização da artista lança luz sobre lógicas sociais mais amplas, que iluminam significados comunitários de eventos como o acesso à educação formal e profissionalização para a população negra, e desvelam lógicas de organização em rede, calcadas na solidariedade e na reorganização das instituições que organizam os afetos, como o casamento. Assim, objetiva-se averiguar em que medida a experiência sócio-histórica de gênero e raça da artista permearam a construção de sua obra e trajetória, tanto no que tange às exclusões quanto às estratégias de resistência, reinvenção do cotidiano e construção do fazer artístico como um projeto de vida.

This research is a study of the trajectory of Maria Lídia Magliani, a contemporary Afro-Brazilian and multimedia artist who built a long, international career, whose relevance is little remembered in the recent Brazilian History of Art. Investigating this trajectory is a way to contribute to the debate about the historical erasure of subjects whose artistic productions have little space in the social memory of recent Brazilian art history. The organization of Magliani's trajectory, which goes through the process of formal education and professionalization of the artist, sheds light on broader social logics, which illuminate community meanings of events such as access to formal education and professionalization for the black population, and unveils logics of network organization, based on solidarity and the reorganization of institutions that organize affections, such as marriage. Thus, the aim is to investigate to what extent the socio-historical experience of gender and race of the artist permeated the construction of her work and trajectory, both in terms of exclusions and resistance strategies, reinvention of everyday life and the construction of making art as a life project.