O mau uso das métricas de desempenho está no cerne dos atuais sistemas de avaliação, gestão e financiamento da ciência. O comportamento gamificado, fraudes, plágios, clubes de citação e ciência salame se banalizaram. Ademais, crescentes exigências de produtividade científica induzem à insatisfação profissional e adoecimento entre os pesquisadores. Como estes problemas têm sido tolerados? Por meio de entrevistas individuais e de participação em reuniões e eventos, investigamos os efeitos dos sistemas de avaliação de desempenho sobre o trabalho de docentes da Universidade de São Paulo. Evidenciamos estratégias de defesa psíquica que contribuem para reduzir a percepção de sofrimento e injustiças geradas pelos sistemas de avaliação. Estas estratégias se revelam em discursos e atitudes que concorrem para: 1) enfatizar que continuar aumentando a produtividade científica é possível, 2) bloquear discussões mais profundas sobre o trabalho e a avaliação de desempenho, e 3) naturalizar e individualizar seus efeitos negativos. Entre estes, destacamos a tendência de agravamento da sobrecarga de trabalho que atenta contra a saúde e a qualidade das atividades realizadas. Argumentamos que a fixação em publicar artigos se volta contra a universidade na forma de desperdício de talentos e pouco diálogo com sociedade. A atual desmoralização da ciência e universidade pública convida os acadêmicos a uma autocrítica, que inclui reavaliar a eficácia dos rankings e indicadores de desempenho em comunicar a importância do trabalho acadêmico à sociedade.

The misuse of performance metrics is in the core of current evaluation, management, and funding systems in science. Gamified behavior, frauds, plagiarism, citation clubs, and salami science have become common. Moreover, rising productivity demands induce diseases and job dissatisfaction. How have these problems been tolerated? In order to investigate the impact of evaluation systems on academic work, we conducted interviews with professors and participated in meetings and events at the University of São Paulo. We noticed that psychic defense strategies help reduce the perception of suffering and injustices generated by evaluation systems. These strategies are evidenced in discourses and attitudes that produce the following effects: 1) emphasizing that raising scientific productivity is always possible, 2) blocking deeper discussions on work and performance evaluation, and 3) normalizing and individualizing its negative consequences. Among these, we highlight the intensification of work overload threatening academic's health and the quality of their work. We argue that fixation with papers turns back against university, as talents are wasted and dialogue with society is widely ignored. The ongoing demoralization of science and university should encourage academics to a self-critique, which includes reassessing the efficacy of rankings and performance metrics in communicating the relevance of the academic work to society.