Tese de Doutorado
DOI
https://doi.org/10.11606/T.27.2024.tde-03072024-152210
Documento
Autor
Nome completo
Luiz Paulo Pimentel de Souza
E-mail
Unidade da USP
Área do Conhecimento
Data de Defesa
Imprenta
São Paulo, 2024
Orientador
Banca examinadora
Vinci, Christian Fernando Ribeiro Guimarães (Presidente)
Florencio, Thiago de Abreu e Lima
Gomes, Sidmar Silveira
Mayor, Mariana França Soutto
Viganó, Suzana Schmidt
Título em português
CrÃtica de um teatro cidadão: um estudo sobre o encontro entre o teatro e os ideais de cidadania no Brasil
Palavras-chave em português
abolição da escravidão
arte e emancipação
história do teatro brasileiro
Michel Foucault
teatro e cidadania
Resumo em português
O campo discursivo que vincula cultura e cidadania se intensifica conforme o Brasil avança em seu processo de redemocratização. Tal associação é consolidada nas décadas subsequentes, a ponto de polÃticas públicas forjadas já no perÃodo democrático tornarem cultura e cidadania, senão termos sinônimos, ao menos complementares. Tanto na produção teórico-acadêmica quanto em projetos artÃsticos de financiamento público ou privado, observa-se que os ideais de emancipação pela cultura (por sua fruição e/ou produção) também ganharam força como justificativa para a necessidade das práticas artÃsticas no tecido social do paÃs. No entanto, os anos 2010 colocaram a combinação arte-cidadania-emancipação em xeque. O motor dessa crise não foi acionado por artistas, crÃticos ou mesmo gestores culturais, mas pelo encontro cada vez mais ruidoso entre os fazedores da arte e seu público. Se a justificativa final da cultura era a de contribuir para a formação de uma atitude cidadã e crÃtica na sociedade, parte desse público-alvo passou a questionar as premissas dessa equação, escancarando seus limites e paradoxos. O teatro, por sua vez, destacou-se como zona privilegiada dessa disputa, com recorrentes episódios de enfrentamento entre cena e público, mobilizando polêmicas a respeito das necessidades de transformação da linguagem bem como de sua teoria e modos de produção. Originando-se da constatação dessa crise contemporânea, esta tese investiga sob quais formas e em quais momentos históricos os ideais de cidadania e emancipação teriam se entranhado na prática e no pensamento sobre o teatro do paÃs. Historicizar tal processo não visa descrever uma sucessão de eventos que teriam nos conduzido linearmente até a atualidade, mas sim problematizar os acontecimentos do próprio curso histórico, evidenciando instituições laterais, forças discursivas e formas de governo que teriam tornado possÃveis certos modos de pensar e produzir as relações entre cena e público, em detrimento de outros. Partindo de um diálogo teórico-metodológico com elementos que compõem o pensamento de Michel Foucault (seu gesto procedimental arqueogenealógico), a pesquisa se move entre diferentes arcos históricos a fim de focalizar cenas polêmicas da história teatral. O texto se desloca entre: a) a análise de tensões entre cena e público deflagradas ao longo da última década (2012-2022) e que encontram na reivindicação da ocupação cênica de corpos historicamente minorizados sua principal, mas não única, condição de expressão; e b) a análise do primeiro momento histórico em que as práticas teatrais teriam se vinculado aos ideais de emancipação e que teve lugar ao longo de toda a década de 1880, na qual os teatros foram eleitos como espaço privilegiado para a militância abolicionista. Assim, a tese sustenta seu procedimento de ir e vir na história por meio de um montante documental composto por textos publicados na imprensa que nos permitem evidenciar modos como escândalos teatrais foram descritos, problematizados e analisados em suas respectivas épocas. Por fim, o exercÃcio genealógico do qual a tese resulta conduz à hipótese de que seria na tentativa de governar certas subjetividades e comportamentos deflagrados no encontro entre cena e público que as relações entre teatro, cidadania e emancipação teriam fundado seu sucesso e fracasso ao longo dos últimos dois séculos.
Título em inglês
Critique of a Citizen Theater: a study on the encounter between theater and the ideals of citizenship in Brazil
Palavras-chave em inglês
abolition of slavery
art and emancipation
Michel Foucault
the history of Brazilian theater
theater and citizenship
Resumo em inglês
The discursive field that links culture and citizenship intensifies as Brazil advances its re-democratization process. This association is further consolidated in subsequent decades, when public policies forged during the democratic period transformed culture and citizenship, if not synonymous, at least in a complementary pair. Both in theoretical-academic production and in artistic projects with public or private funding, it can be seen how the ideals of emancipation through culture (its fruition and/or production) are gaining strength as a justification for the need for artistic practices in the country's social fabric. Nevertheless, the art-citizenship-emancipation combination was put in check during the 2010s. The engine of this crisis was not set in motion by artists, critics, or even cultural managers but by the increasingly noisy encounter between art-makers and their audiences. If the ultimate goal of culture was to contribute to forming a civic and critical attitude in society, part of the audience began to question the premises of this equation by exposing its limits and paradoxes. The theater has stood out as a disputed zone of privilege where recurrent episodes of confrontation between the scene and the audience mobilize polemics about the need for transformation in language, its theory, and modes of production. This thesis arises from the perception of that contemporary crisis and aims to investigate in what forms and at which historical moments the ideals of citizenship and emancipation have become embodied in the country's theater practice and thinking. Historicizing this process does not aim to describe a succession of events that would have linearly led us to the present day. It is instead to problematize the events of the historical course itself, highlighting sideways institutions, discursive forces, and forms of government that would have made it possible to raise specific ways of thinking and producing relations between the scene and the audience, to the detriment of others. Based on a theoretical and methodological dialog with some elements of Michel Foucault's thought (his archaeogenealogical procedural gesture), this research moves between different historical archives to focus on controversial scenes from theatrical history. The text shifts between a) the analysis of tensions between the scene and the audience over the last decade (2012-2022), which have found their expression mainly, but not only, in claiming the presence of historically minorized bodies as an occupation of the scene; and b) the analysis of the first historical moment in which theatrical practices were associated with the ideals of emancipation, which took place throughout the 1880s when the theaters were taken as a privileged space for abolitionist militancy. Thus, the thesis sustains its procedure of going back and forth in history by examining several documents that consist of texts published in the press. These documents reveal how theatrical scandals were described, problematized, and analyzed in their respective eras. Finally, this work results in a genealogical exercise that leads to the hypothesis that, over the last two centuries, the relations between theater, citizenship, and emancipation would have founded their success - and failure - in an attempt to govern some subjectivities and behaviors triggered in the encounter between scene and audience.
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Data de Publicação
2024-07-04