O presente estudo investiga a poética citacional do ensaísmo videográfico tardio de Jean-Luc Godard, principalmente em sua lida com a narração da história, dedicando-se especificamente aos filmes The Old Place (1999) e Liberté et Patrie (2002), ambos dirigidos em parceria com a cineasta Anne-Marie Miéville. Partindo de uma breve contextualização do desenvolvimento do ensaísmo videográfico godardiano e de seu encontro com Miéville, bem como da importância de Histoire(s) du cinéma para a formulação de uma forma reflexiva que, por meio de sua própria forma, busca dialeticamente relacionar a história do cinema e das artes plásticas com a história social, buscamos demonstrar as especificidades que ela alcançou ao longo do tempo tomando duas obras distintas como referência. Procuramos apontar as singularidades de ambos os filmes e, fazendo uso de um conjunto de conceitos oriundos da filosofia da história de Walter Benjamin, explicitar as implicações que oferece a constituição de uma forma bastante singular de reunir uma constelação citacional de matérias expressivas para narrar a história. Ao fim, propomos a abertura de uma reflexão sobre como a evolução deste tipo específico de cinema desenvolveu-se até o momento final desta pesquisa, procurando contribuir para a percepção da originalidade estético-política de Godard na criação de uma forma que pretende, enquanto pensa, re-escrever a história a contrapelo.

The present study investigates the citational poetics of Jean-Luc Godard's late videographic essayism, mainly in his dealing with historical narration, dedicating specifically to the films The Old Place (1999) and Liberté et Patrie (2002), both directed in partnership with filmmaker Anne-Marie Miéville. Starting from a brief contextualization of the development of godardian videographic essayism and its encounter with Miéville, as well as the importance of Histoire (s) du cinéma for the formulation of a reflexive form that, through its own form, seeks to dialectically relate the history of cinema and visual arts with social history, we seek to demonstrate the specifics that it has achieved over time by taking two distinct works as a reference. We seek to point out the singularities of both films and, using a set of concepts from Walter Benjamin's philosophy of history, explain the implications that the constitution of a very unique way of gathering a citational constellation of expressive materials to narrate the story offers. In the end, we propose the opening of a reflection on how the evolution of this specific type of cinema developed until the end of this research, seeking to contribute to the perception of Godard's aesthetic-political originality in the creation of a form that intends, while thinking, rewrite history against the grain.