Este trabalho teve como ponto de partida a investigação de materiais audiovisuais produzidos em decorrência dos rompimentos das barragens de minério de ferro em Mariana (2015) e em Brumadinho (2019), o que possibilitou a reflexão sobre alguns impasses concernentes à imagem da catástrofe no audiovisual contemporâneo. Através da investigação foi necessário examinar as imagens dessas catástrofes em Minas Gerais, cotejando-as com as de outros acontecimentos simbólicos na contemporaneidade como o atentado ao World Trade Center em 2001 e a tragédia em Fukushima em 2011. Observa-se as similitudes na forma como esses acontecimentos foram amplamente imagetizados e disseminados, configurando uma ideia de visibilidade total da catástrofe nos dias atuais. Dada a inerente opacidade da catástrofe, propõe-se pensar e experimentar uma pedagogia das imagens que nos auxilie a melhor compreendê-la e, por consequência, compreender suas imagens, com o ímpeto de dar a ver por entre sua opacidade. Nesse sentido, a pesquisa passa a ser permeada por uma discussão sobre como as imagens dos rompimentos apontam para lógicas, ora veladas ora superexpostas, de exploração trabalhistas e ambiental, que influenciam a própria imaginação e a produção de imagens desses eventos. Quando tudo parece já ter sido filmado e assistido por todos ângulos e telas, a pesquisa tenta compreender o que restaria ao cinema frente à catástrofe. A partir da realização de um ensaio fílmico de remontagem de materiais, dentre os quais se encontram filmagens feitas pela autora entre 2015 e 2020, em Mariana, Brumadinho e Itabira, o estudo propõe conectar a análise teórica a uma investigação do corpus em sua própria dimensão audiovisual.

This work had as its starting point the investigation of audiovisual materials made of and after the ruptures of the iron ore dams in Mariana (2015) and Brumadinho (2019), both in Minas Gerais state. These materials impelled the reflection on some impasses in the image of the catastrophe in contemporary audiovisual. Through the examination, it was necessary to look the images of these catastrophes in Minas Gerais, juxtaposing them with those of other symbolic contemporary events, such as the attack on the World Trade Center in 2001 and the tragedy of Fukushima in 2011. Similarities are observed in the way these events were widely portrayed and disclosed, configuring an idea of total visibility of the catastrophe today. Given the inherent opacity of the catastrophe, with the impetus to see through this opacity, it is discussed about and experiment with a sort of pedagogy of images that will help us to better understand the catastrophe and, consequently, to understand its images. In this sense, the study is permeated by a debate about how the images of ruptures point to logics, sometimes veiled, sometimes overexposed, of labor and environmental exploitation, which, in turn, condition the imaginary and the production of images of these events. When everything seems to have already been filmed and watched from all angles and screens, this research tries to understand what would be left for the cinema in the face of the catastrophe. Based on the realization of a film essay of reassembly of materials, among which are shots filmed by the author between 2015 and 2020, in Mariana, Brumadinho and Itabira, the study proposes to connect the theoretical analysis to an investigation of the corpus in its own audiovisual dimension