Entendendo a escuta como uma construção cultural, social e afetiva ao longo da história, esta pesquisa tem o propósito de avaliar possíveis transformações nas relações entre o ouvinte e a música, advindas da introdução de tecnologias eletrônicas de gravação e reprodução sonora, que posteriormente tornaram-se também tecnologias de produção e composição musical. A partir principalmente das contribuições de Pierre Schaeffer, John Cage, Luciano Berio, Jean-Jacques Nattiez e François Delalande, a tese abarca o tema da escuta com as dimensões e a complexidade com que esta é tratada a partir do século XX e discute o desenvolvimento de uma escuta ativa e criativa, por meio de experiências significativas de escuta compartilhada em sala de aula, propiciando a expansão da capacidade perceptiva musical dos estudantes e potencializando dialogicamente seus hábitos de escuta, bem como os repertórios que constituem as suas referências na era digital. As propostas dos autores mencionados indicam a necessidade de mudanças atitudinais, de organização e abordagem da música na função do professor como mediador, cocriador, partícipe das descobertas dos estudantes, enquanto ouvintes criativos, ou seja, considerando que a escuta não é recepção passiva, mas já traz em si suas marcas, inscreve no corpo memórias e mudanças, emoções, sentimentos, move afetos, estabelece pontes com outras escutas. A escuta é, em si, criação; é inventiva, imaginativa, explorativa, interpretativa e ponto de partida para variações, improvisações e novas composições. Esta tese conta, para isso, com pesquisa bibliográfica de diversos autores, a fim de estudar múltiplas percepções a esse respeito, sob o ponto de vista da composição, da análise semiológica musical e da pedagogia musical, assim como as perspectivas apontadas pela sociedade com suas dinâmicas. O principal referencial pedagógico permanece sendo, portanto, os autores estudados no mestrado, Rudolf Steiner e Émille Jaques-Dalcroze, pela pertinência ainda atual dos seus ideais de renovação da escola, em direção a uma prática democrática, humanista e libertadora, fomentando a sensibilidade e a consciência, promovendo metodologias dialógicas e respeitando os estudantes em seus itinerários existenciais, na singularidade de seus devires, como inventores e não apenas reprodutores do ensino. Assim, consideramos tratar a escola como uma instituição que precisa adequar-se à pluralidade das demandas das crianças e jovens do século XXI, à medida em que deixa seu fardo conservador, ainda de algum modo atrelado à práxis do século XIX.

This thesis considers listening as a historical, cultural, social and affective construction along history. Its purpose is to evaluate the possible transformations in the relations between the listener and the music, arising from the introduction of electronic technologies of recording and sound reproduction, which later also became technologies of production and musical composition. Based mainly on the contributions of Pierre Schaeffer, John Cage, Luciano Berio, Jean-Jacques Nattiez and François Delalande, this thesis approaches the subject of listening with the dimensions and complexity observed from the 20th century onwards and thus it discusses the development of an active and creative listening by means of significant experiences of classroom shared listening. Such attitude is proper, as we think, to the expansion of the students perceptive capacity of musical listening and a dialogical potentiation both of their listening habits and their referential repertoires in the digital age. The mentioned authors indicate the need for attitudinal changes, organization and approach to music in the teacher's role as mediator, co-creator and participant in the students' discoveries as creative listeners. This means the understanding of listening as not a passive reception, but as already bearing its marks, inscribing in the body memories and changes, emotions, feelings, moving affections, establishing bridges with other persons listening. Listening is in itself creations; it is inventive, imaginative, explorative and interpretative, as well as the starting point for variations, improvisations and new compositions. This thesis relies on a bibliographic research approaching several authors, in order to study multiple perceptions in this regard, from the point of view of composition, of semiology in musical analysis and musical pedagogy as well as the perspectives pointed out by society with its dynamics. The main reference as to musical pedagogy keeps being, therefore, the authors studied for my master degrees dissertation. Rudolf Steiner and Émille Jaques-Dalcroze. These authors are, indeed, of current relevance for their ideals of school renovation, towards a democratic, humanist and liberating practice, fostering sensitivity and conscience, promoting dialogic methodologies and respecting students in their existential itineraries, in the singularity of their coming to be inventors and not only learning reproducers. Thus, we consider treating the school as an institution that needs to adapt itself to the demands of the 21st century children, leaving its conservative burden still somehow linked to the 19th centurys praxis.