Este trabalho investiga as relações entre teatro e luta armada em São Paulo entre 1968 e 1970, período que compreende o início, o auge e o declínio das ações de guerrilha na cidade. São analisadas quatro experiências artísticas: Os fuzis da dona Tereza Carrar, uma montagem do Teatro dos Universitários de São Paulo de 1968, dirigida por Flávio Império, que parte de uma peça de Bertolt Brecht para convocar o público a aderir à resistência ativa contra a ditadura; a Primeira Feira Paulista de Opinião, um espetáculo mural, do mesmo ano, que reúne representantes das principais tendências da cena politizada, sob direção de Augusto Boal, e coloca o dilema da luta armada a partir da perspectiva do campo da cultura; o teatro jornal, conjunto de técnicas desenvolvidas por Boal com o Núcleo Independente em 1970, que faz uso simbólico de algumas estratégias da luta armada e se apresenta como meio para a ação política; e os experimentos teatrais realizados no mesmo ano por um grupo de militantes recolhidas no Presídio Tiradentes com a condução da diretora Heleny Guariba, encarcerada por sua militância na Vanguarda Popular Revolucionária. As ações que elas produzem indicam, da prisão, relações estabelecidas nos palcos e nas ruas entre o teatro e a guerrilha. O estudo examina essas relações em seus temas, formas e modo de produção e procura compreender como o teatro foi influenciado pelo imaginário da militância política, algo que repercute na radicalização do público estudantil dos espetáculos, talvez o maior vínculo entre o teatro e a guerrilha.

This study aims to investigate the relationship between theater and armed struggle in São Paulo from 1968 to 1970, period that comprises the beginning, the rise and the decline of the guerrilla actions in the city. Four artistic experiences are analyzed: Os fuzis da dona Tereza Carrar [Dona Tereza Carrars Rifles], a 1968 production from Teatro dos Universitários de São Paulo, directed by Flávio Império, based on a play from Bertolt Brecht to summon the public to join the active resistance against the dictatorship; Primeira Feira Paulista de Opinião [First São Paulo Fair of Opinion], a mural show, of the same year, which brings together representatives of the main trends of the politicized scene, directed by Augusto Boal, and poses the question of the armed struggle from the perspective of the cultural field; the Theatre newspaper, a set of techniques developed by Boal with the Núcleo Independente in 1970, which make symbolic use of some strategies from the armed struggle and present itself as mean for political action; and the theatrical experiments performed in the same year by a group of militants imprisoned in Tiradentes Prison including Heleny Guariba, a theater director imprisoned for her militancy in the Vanguarda Popular Revolucionária. The actions they produce indicates, from prison, relationships established on the stage and in the streets between theater and guerrillas. This research analyzes these relationships in their themes, forms and mode of production and seeks to understand how theater was influenced by the imaginary of political militancy, something that affects the radicalization of the student audience of the shows, perhaps the greatest link between theater and guerrilla.