O objetivo deste estudo é examinar o Teatro Cósmico de Susanne Kennedy, a partir de nove espetáculos produzidos pela encenadora alemã entre os anos de 2014 e 2021. Tendo por base o pressuposto de que Kennedy reinventa a forma espetacular contemporânea, o que se propõe é investigar a especificidade dessa reinvenção. A metodologia empregada consiste em abordar os espetáculos selecionados não como objetos, mas como sujeitos enunciadores de pontos de vista específicos sobre o teatro contemporâneo. A proposição é mergulhar na experiência fenomenológica de assistir a cada um desses trabalhos tanto presencialmente como mediante seus respectivos registros videográficos para, a partir da eleição de fragmentos significativos de cada um deles, dichavar a teoria que lhes é imanente. Desse modo, entende-se que cada obra estudada enuncia algo sobre si mesma, fazendo-o, também, em relação ao Teatro Cósmico de Kennedy, em específico, e ao teatro contemporâneo, no geral. Assumindo que, na produção estudada, Kennedy manifesta uma cosmogonia cênica, procura-se, então, delinear a cosmologia correspondente. Neste trabalho cartográfico, por assim dizer, é fundamental a noção de poética de superfícies: a forma com que a encenadora maneja as instâncias expressivas de seu teatro, abrindo espaços e gerando tensão entre cada uma delas; conjugando-as e, simultaneamente, disjuntando-as. Determinante, também, é a constatação de que o superobjetivo do Teatro Cósmico de Kennedy é reencantar, por meio de sua poética de superfícies, o teatro e o homem ocidentais contemporâneos. Desse modo, a função do espetáculo teatral deixa de ser apenas a de encenar peças, e passa a ser a de recolocar as condições (as forças cósmicas) do que pode vir a existir. A redistribuição dessas forças cósmicas, por sua vez, são organizadas em dois paradigmas: o passional-dissolutivo, que engloba as produções realizadas entre 2015 e 2017, e o lúdico-germinativo, referente às criações ocorridas entre 2019 e 2021. Sob esse enfoque, esboça-se o retrato provisório de uma obra em movimento, examinando-se as encenações: Warum läuft Herr. R. Amok? (2014); Orfeo: eine Sterbeübung (2015); Medea.Matrix (2016); Virgin Suicides (2017); Women in Trouble (2017); Coming Society (2019); Drei Schwestern (2019); ULTRAWORLD (2020); e I AM (VR) (2021).

The objective of this study is to examine Susanne Kennedy's Cosmic Theater, based on nine theatrical performances produced by the German director between 2014 and 2021. Based on the assumption that Kennedy reinvents the contemporary spectacular model, what we propose is to investigate the specificity of this reinvention. The methodology used consists of approaching the selected performances not as objects, but as subjects that express specific points of view on contemporary theater. The proposal is to delve into the phenomenological experience of watching each of these works both in person and through their respective videographic records in order to, from the election of significant fragments of each one of them, dissect the theory that is immanent to them. In this way, it is understood that each work studied enunciates something about itself, doing so also in relation to Kennedy's Cosmic Theater, in particular, and to contemporary theater, in general. Assuming that, in the production studied, Kennedy manifests a scenic cosmogony, we then seek to outline the corresponding cosmology. In this cartographic work, so to speak, the notion of the poetics of surfaces is fundamental: the way in which the director handles the expressive instances of her theater, opening spaces and generating tension between each one of them; conjugating them and, at the same time, disjoining them. Also decisive is the realization that the super-objective of Kennedy's Cosmic Theater is to re-enchant, through its poetics of surfaces, contemporary men and Western theater. In this way, the function of the theatrical spectacle is no longer just to stage plays, but to replace the conditions (cosmic forces) of what may come to be. The redistribution of these cosmic forces, in turn, is organized into two paradigms: the passionate-dissolutive, which encompasses the productions carried out between 2015 and 2017, and the playful-germinative, referring to the creations that took place between 2019 and 2021. Under this approach, the provisional portrait of a work in motion is sketched, examining the stagings: Warum läuft Herr. R. Amok? (2014); Orfeo: eine Sterbeübung (2015); Medea.Matrix (2016); Virgin Suicides (2017); Women in Trouble (2017); Coming Society (2019); Drei Schwestern (2019); ULTRAWORLD (2020); and I AM (VR) (2021).