A presente tese se debruça sobre a governança corporativa de grandes empresas brasileiras que, entre 2003 e 2012, destacaram-se no cenário internacional como empresas multinacionais. O investimento estrangeiro direto dos países emergentes cresceu em medida sem precedentes nos anos 2000. Em diferentes campos do conhecimento, a literatura associou esse fenômeno à atuação de grandes empresas de poucos países que, no período, intensificaram a intervenção governamental na economia. A literatura de negócios internacionais se destaca entre as fontes de estudos empíricos sobre o tema e sugere ser a influência governamental o principal determinante do sucesso das empresas multinacionais de países emergentes. Tal influência governamental incide na forma de participações societárias, de empréstimos de bancos públicos, ou, ainda, da presença de administradores que possuem conexões governamentais. O consenso sobre o papel da influência governamental na internacionalização de empresas de países emergentes se baseia em estudos concentrados na experiência chinesa, mas tem sido generalizado sem grandes ressalvas para a experiência brasileira e de outros países. Reforçam esse consenso outras literaturas mais aplicadas às características específicas do Brasil. Estudos nos campos da economia política comparada e do direito e desenvolvimento sugerem que o ativismo estatal no Brasil foi crescente nos anos 2000, especialmente a partir de 2003, com a chegada ao poder do Partido dos Trabalhadores. Tais estudos sugerem que a política industrial de criação de empresas campeãs nacionais foi favorável à internacionalização das empresas brasileiras, por meio de medidas como a facilitação do acesso ao crédito subsidiado de bancos públicos. Estudos na literatura de direito internacional econômico vão no mesmo sentido, ao apontar para uma diplomacia diferenciada empreendida pelo Brasil no período, que pode ter favorecido as operações internacionais das empresas brasileiras. Por fim, estudos nas literaturas de direito societário e negócios sobre a governança das empresas brasileiras apontam para a influência do Estado brasileiro sobre empresas privadas nacionais nos anos 2000, não diretamente, mas por meio de investidores institucionais a ele associados, que atuam como acionistas minoritários ou provedores de crédito. Diante do conhecimento acumulado sobre a intervenção do Estado nas empresas brasileiras, esta tese realiza um estudo de caso comparado das forças governamentais e das forças de mercado em operação na trajetória de internacionalização de quatro empresas brasileiras, a Vale, a Gerdau, a JBS e a Embraer, e conclui que a influência governamental ou esteve ausente ou foi inefetiva quando voltada às operações internacionais dessas empresas. A tese pretende contribuição no campo do direito societário. Ao considerar como os detentores de influência societária sobre as decisões corporativas das empresas analisadas exercem sua capacidade de ação, esta tese argumenta que o poder de influência do Estado brasileiro pode ser limitado na governança de empresas privadas que possuem grande capacidade de captação de recursos e operação no exterior. Além disso, a tese também argumenta que os atores ligados às forças de mercado, quando associados ao capital financeiro, atuam na busca por independência da influência governamental, enquanto os atores ligados ao empresariado brasileiro demonstraram ampla capacidade de mobilizar os recursos dos investidores institucionais ligados ao Estado.

This doctoral dissertation examines the corporate governance of large Brazilian enterprises which performed well in their international operations in the period between 2003 and 2012. The growth of foreign direct investment from emerging markets throughout the 2000s was unprecedented. Different literatures associated this growth with the performance of large enterprises based in a few countries which experienced greater government intervention in the economy in the same period. The international business literature is an influential source of empirical studies on outward foreign direct investment from emerging markets and suggests that government influence is a key cause for the successful performance of local enterprises in their international operations. Such government influence may come in the form of equity, debt, or directors and executives with government connections. The international business literature reached a consensus in regard to the role of government influence on the internationalization of emerging-market enterprises based on studies concentrated on the Chinese experience. This consensus has been generalized without caveats to explain the Brazilian experience, as well as other countries experiences. In addition, other studies dedicated exclusively to understanding the Brazilian experience reinforce this consensus. Studies in comparative political economy and law and development have suggested that state activism grew in Brazil throughout the 2000s, especially after 2003, when the Brazilian Workers Party came to power. These studies suggest that industrial policy initiatives for the creation of national champions favored the internationalization of Brazilian companies, which benefited from large amounts of subsidized credit from public banks. Studies in international economic law also reinforce the correlation between government influence and the internationalization of Brazilian corporations, since they have suggested that the Brazilian diplomacy in the 2000s may have benefited the international operations of Brazilian corporations. Finally, studies in corporate law and business on Brazilian large enterprises have suggested that government influence on the corporate governance of private corporations grew in Brazil in the 2000s in the form of debt from public banks and minority shareholdings of state-controlled institutional investors. Considering the knowledge accumulated on state intervention on Brazilian private enterprises, this thesis performs a comparative case study of the internationalization of selected Brazilian corporations to understand the role of government influence and of market forces in the corporate decisions related to their foreign operations. Corporations selected are the Brazilian companies Vale, Gerdau, JBS, and Embraer. Despite the literature review, case study conclusions suggest that government influence was absent or ineffective on the internationalization trajectory of corporations under analysis. Based on the corporate governance in action in cases observed, this thesis argues that government influence on Brazilian large corporations may be limited when they hold large foreign operations. At the same time, actors associated with financial markets seek independence from government influence, while Brazilian entrepreneurs associated with the industrial sector demonstrated great capacity of mobilizing State-controlled institutional investors resources.