Introducão: A transfusão de sangue é um importante recurso terapêutico, muito utilizado em todo o mundo, mas que apresenta diversos efeitos adversos potenciais. Sua utilização nem sempre ocorre de forma criteriosa, o que tem motivado o desenvolvimento de medidas de auditoria tanto retrospectivas como prospectivas a fim de promover a conservação do sangue. As transfusões ambulatoriais têm sido pouco estudadas, sobretudo quanto à pertinência técnica. A partir de janeiro de 2014 os pacientes encaminhados ao HEMOSC para transfusão ambulatorial passaram a ser submetidos a um atendimento médico com aprovação pré-transfusional obrigatória. O impacto dessa medida não é bem estabelecido. Materiais e métodos: As solicitações de transfusão encaminhadas ao HEMOSC entre julho de 2013 e junho de 2014 foram avaliadas retrospectivamente, período correspondente aos seis meses anteriores e subsequentes ao início do atendimento médico pré-transfusional. Os pacientes foram analisados em grupos de acordo com o diagnóstico, e as medianas de hematócrito, hemoglobina e contagem plaquetas pré-transfusionais foram comparadas entre os grupos. O número de solicitações e de unidades transfundidas nos distintos períodos também foi comparado. Resultados: Os pacientes portadores de tumores sólidos foram maioria entre os transfundidos na instituição e apresentaram medianas de hematócrito e hemoglobina (25,70 e 8,4 respectivamente) superiores às de outras especialidades, sobretudo da Onco-hematologia (21,85 e 7,2; p<0,01) e da Hematologia (21,80 e 6,9; p<0,01 ). Resultados semelhantes foram obtidos com as contagens de plaquetas, com mediana de 28.000 (7.000 - 57.000) da Oncologia, enquanto a da Onco-hematologia foi 10.000 (2.000 - 70.000; p<0,01) e a da Hematologia foi 6.500 (3.000 - 21.000; p<0,01). Não houve diferença significativa no número de solicitações de transfusão entre os períodos analisados, mas o número de unidades transfundidas foi reduzido significativamente no segundo período (1009 e 941; p=0,019), assim como um maior número de hemocomponentes filtrados e irradiados foi transfundido após o início do atendimento médico (227 e 278; p<0,01). Conclusão: Os pacientes da Oncologia foram encaminhados para transfusão de hemácias com níveis mais elevados de hematócrito e hemoglobina, bem como contagens de plaquetas mais altas comparativamente às outras especialidades. O atendimento médico com aprovação pré-transfusional obrigatória foi capaz de reduzir o número de bolsas transfundidas e aumentar o uso de hemocomponentes modificados. Os efeitos de longo prazo dessa forma de auditoria prospectiva podem ser ainda mais expressivos, com o aprimoramento da técnica e desenvolvimento de medidas educativas visando o uso racional do sangue.

Introduction: Blood transfusion is an important therapeutic resource used all over the world, but involves potential adverse events. Since it is not always used in a conscientious way, several retrospective and prospective audit strategies have been developed, in order to improve blood conservation. Outpatient transfusion appropriateness has not been thoroughly studied. As of January 2014 patients who are referred to HEMOSC have been undergoing a medical evaluation and pre-transfusion mandatory approval. The impact of these medical evaluations has not yet been properly studied. Materials and methods: Transfusion requests forwarded to HEMOSC between July 2013 and June 2014 have been retrospectively evaluated, corresponding to six months before and after the beginning of the medical evaluation strategy. Patients have been analysed in groups according to diagnosis and the median of pretransfusion hematocrit, hemoglobin and platelet counts were compared among the groups. The numbers of requests as well as the units transfused in both periods were also compared. Results: Most of the patients transfused at the institution were suffering from solid tumours and presented median hematocrit and hemoglobin (25,70 and 8,4 respectively) higher than those from other areas, especially Onco-hematology (21,85 and 7,2; p<0,01) and Hematology (21,80 and 6,9; p<0,01). Similar results have been obtained in platelet counts comparison. Oncology`s median were 28.000 (7.000 - 57.000), while Onco-hematology`s were 10.000 (2.000 - 70.000; p<0,01) and Hematology`s were 6.500 (3.000 - 21.000; p<0,01). There was no significant difference between the number of transfusions requested in 2013 and in 2014. However, the number of transfused units was significantly reduced (1009 and 941; p=0,019) and a higher number of filtrated and irradiated blood components were transfused after the implementation of medical evaluation (227 and 278; p<0,01). Conclusion: Oncology patients were referred to transfusion with higher levels of hematocrit and hemoglobin as well as platelet counts than those presented by patients from other areas. Medical evaluations with mandatory pre-transfusional approval were able to reduce the number of blood bags transfused and increase the use of modified components. Long-term effects of this audit strategy might be even more profound and educational measures should be taken in order to foster rational blood use.