Introdução: A estimulação ovariana, a fertilização in vitro (FIV) e a vitrificação oocitária representam avanços significativos na medicina reprodutiva, permitindo que casais inférteis concebam. Em todo o mundo mais de oito milhões de bebês nasceram graças a tratamentos de reprodução assistida e este número tende a aumentar. Contudo, estudos indicam que a manipulação de gametas e embriões pode afetar o metabolismo da prole a longo prazo. Pesquisas sugerem que crianças concebidas após FIV possuem perfis metabólicos distintos, o que pode predispô-las a doenças na vida adulta. No entanto, a maioria dos estudos que avaliam o impacto das técnicas de reprodução assistida na prole envolve dados perinatais, neonatais e de curto prazo. Portanto, estudos de longo prazo que investiguem a saúde da prole concebida com o auxílio dessas técnicas permanecem necessários. Objetivos: Esse estudo teve por objetivo avaliar o impacto da estimulação ovariana isolada e associada FIV na prole adulta de camundongos. Avaliamos também a viabilidade da obtenção de prole murina por meio da combinação das técnicas de vitrificação oocitária, rompimento parcial da zona pelúcida (PZD) e FIV. Material e métodos: Este é um estudo experimental prospectivo que utilizou o modelo murino. Os desfechos na prole foram comparados entre três grupos: (1) grupo Natural (controle), prole concebida naturalmente, (2) grupo Estimulado, animais nascidos após estímulo ovariano e fertilização in vivo e (3) grupo FIV Fresco, prole oriunda de estimulação ovariana e FIV de oócitos frescos. Para obtenção da prole de oócitos vitrificados (grupo Vitrificado) utilizamos a seguinte combinação de técnicas de reprodução assistida: estimulação ovariana, vitrificação e aquecimento oocitários, PZD e FIV. A prole foi monitorada do desmame (4ª semana) até a eutanásia (21ª semana). Os parâmetros analisados foram o ganho de peso (semanal), os níveis séricos de glicose, colesterol total e triglicérides (16ª, 18ª e 21ª semanas), a pressão arterial sistólica por pletismografia (10ª, 15ª e 20ª semanas) e o peso da gordura abdominal e do músculo gastrocnêmio (pós eutanásia). Resultados: As taxas de fertilização e formação de blastocistos foram similares entre os grupos FIV Fresco e Vitrificado (76% vs. 81% e 60% vs. 50% respectivamente). No entanto, as taxas de gestação e nascidos vivos após a vitrificação foram menores do que as obtidas em oócitos frescos (27% vs. 75% e 7% vs. 31% respectivamente). Por obtermos apenas 2 animais no grupo Vitrificado este não foi incluído na análise estatística das variáveis avaliadas na prole. Os animais dos grupos Estimulado (7 fêmeas e 10 machos) e FIV Fresco (10 fêmeas e 8 machos) apresentaram alteração nos níveis séricos de glicose, colesterol total e triglicérides, além do maior ganho de peso, quando comparados aos animais do grupo Natural (11 fêmeas e 10 machos). Os machos do grupo FIV Fresco apresentaram maiores valores de pressão arterial sistólica, um importante fator de risco para hipertensão arterial. Enquanto o grupo Estimulado possuiu maior peso de gordura abdominal e maior peso corporal do que os grupos Natural e FIV Fresco, um agravante que sugere alterações no metabolismo da gordura. Conclusões: Esse é o primeiro estudo com monitoramento longitudinal de variáveis metabólicas laboratoriais e clínicas na prole adulta de camundongos, machos e fêmeas, concebidos após estimulação ovariana isolada ou associada a FIV. Em conjunto, nossos achados sugerem que a prole oriunda de estímulo ovariano associado ou não a FIV possa apresentar fatores de risco para doenças cardiovasculares, o que precisa ser melhor investigado em pesquisas futuras. Esse estudo sugere que o estímulo ovariano e a FIV podem promover alterações embrionárias passíveis de favorecer alterações metabólicas na idade adulta. Nossos achados também sugerem que oócitos murinos se tornam muito frágeis após a vitrificação e o aquecimento, sendo mais sensíveis ao rompimento parcial da zona pelúcida, comprometendo o desenvolvimento e potencial de nidação embrionária.

Introduction: Ovarian stimulation, in vitro fertilization (IVF), and oocyte vitrification represent significant advances in reproductive medicine, allowing infertile couples to conceive. Around the world, more than eight million babies have been born thanks to assisted reproduction treatments. However, studies indicate that the manipulation of gametes and embryos can affect the metabolism of the offspring in the long term. Research suggests that children generated from IVF have distinct metabolic profiles, which may predispose them to diseases in adult life. However, most studies evaluating the impact of assisted reproduction treatments on offspring involve perinatal, neonatal, and short-term data. Therefore, long-term studies investigating the health of offspring from these techniques remain necessary. Objectives: This study aimed to evaluate the impact of ovarian stimulation alone and associated with in vitro fertilization (IVF) on adult mice offspring. We also evaluated the viability of obtaining murine offspring by combining the techniques of oocyte vitrification, partial disruption of the zona pellucida (PZD), and IVF. Material and methods: This prospective experimental study used a murine model. Outcomes in offspring were compared between three groups: (1) Natural (control) group, naturally conceived offspring, (2) Stimulated group, animals born after ovarian stimulation and in vivo fertilization; and (3) Fresh IVF group, offspring from ovarian stimulation and IVF from fresh oocytes. To obtain the offspring of vitrified oocytes (Vitrified group), we used the combination of the following assisted reproduction techniques: ovarian stimulation, oocyte vitrification, warming, PZD, and IVF. The offspring were monitored from weaning (4th week) to euthanasia (21st week). The analyzed parameters were weight gain (weekly), serum levels of glucose, total cholesterol, and triglycerides (16th, 18th, and 21st weeks), systolic blood pressure by plethysmography (10th, 15th, and 20th weeks), and abdominal fat weight and gastrocnemius muscle weight (post euthanasia). To obtain the offspring of vitrified oocytes (Vitrified group), we used the combination of the following assisted reproduction techniques: ovarian stimulation, oocyte vitrification, warming, PZD, and IVF. Results: Fertilization and blastocyst formation rates were similar between Fresh IVF and Vitrified groups (76% vs. 81% and 60% vs. 50%, respectively). However, after vitrification, pregnancy and live birth rates were lower than those obtained in fresh oocytes (27% vs. 75% and 7% vs. 31%, respectively). We obtained only two animals in the Vitrified group, which was not included in the statistical analysis of the variables evaluated in the offspring. The animals in the Stimulated (seven females and ten males) and Fresh IVF (10 females and eight males) groups showed changes in serum levels of glucose, total cholesterol, and triglycerides, in addition to more significant weight gain, when compared to animals in the Natural group (11 females and ten males). Males in the Fresh IVF group had higher systolic blood pressure values, a significant risk factor for hypertension. At the same time, the Stimulated group had higher abdominal fat and body weight than the Natural and Fresh IVF groups. This aggravating factor suggests changes in fat metabolism. Conclusions: This is the first study with longitudinal monitoring of laboratory and clinical variables in adult offspring of mice, male and female, conceived after ovarian stimulation alone or associated with IVF. Together, our findings suggest that offspring from ovarian stimulation associated or not with IVF may have risk factors for cardiovascular disease, which needs to be further investigated in future research. This study suggests that ovarian stimulation and IVF can promote embryonic changes likely to favor metabolic changes in adulthood. Our findings also suggest that murine oocytes become very fragile after vitrification and heating, being more sensitive to partial rupture of the zona pellucida, compromising the development and potential for embryonic implantation.