INTRODUÇÃO: Os pacientes com doença renal crônica (DRC) possuem elevada prevalência de calcificação vascular (CV) da camada intimal, relacionada aos fatores de risco tradicionais, e da camada média, relacionada aos fatores de risco não-tradicionais. Há forte associação entre CV e doença cardiovascular (DCV), a principal causa de morte nesses indivíduos. A CV pode ser mensurada de forma eficaz através de radiografias simples de mãos, bacia e abdome, com cálculo dos escores de Adragão e de Kaupilla. OBJETIVOS: avaliar a prevalência de calcificações vasculares e estimar o risco cardiovascular, baseados nos escores de Adragão e Kaupilla, em receptores de transplante renal, além de investigar a associação dos escores de CV com características clínicas e laboratoriais dos pacientes. MÉTODOS: Estudo observacional e transversal em centro único, com seleção aleatória de 177 receptores de transplante renal. Realizamos coleta de dados no prontuário, dosagens de exames laboratoriais e radiografias simples. Foram excluídos 26 indivíduos em decorrência da não realização das radiografias, totalizando uma amostra de 151 pacientes. RESULTADOS: A prevalência de CV que encontramos foi de 51,65%, 35,76% e 42,38% considerando, respectivamente, o índice global de CV, o escore de Adragão e o escore de Kaupilla. Observamos que, em relação ao índice global, 43,7% dos pacientes foram classificados como alto risco cardiovascular e, quando consideramos o escore de Adragão e Kaupilla, 38,4% e 25,2%, respectivamente. Comparando o grupo de alto risco com o grupo de baixo risco cardiovascular, utilizando o escore de Adragão, houve diferença significativa entre as variáveis idade, escore de Framingham, diabetes mellitus (DM), estágios da DRC, dosagens de glicose e hemoglobina glicada (HB1AC). Já em relação ao escore de Kaupilla, houve diferença significativa entre as variáveis idade, escore de Framingham, doença arterial coronariana (DAC), insuficiência cardíaca (IC), tabagismo e dosagens de 25-hidroxivitamina D, comparando o grupo de alto risco com o grupo de baixo risco cardiovascular. CONCLUSÕES: Este foi o primeiro estudo a avaliar a prevalência de CV em receptores de transplante renal no Brasil. Encontramos que mais da metade dos indivíduos apresentavam CV. Classificamos os indivíduos em alto e baixo risco cardiovascular, baseado na gravidade da CV. Considerando o escore de Kaupilla ou o escore de Adragão, 43,7% dos pacientes foram classificados como tendo alto risco cardiovascular. Fizemos também a associação de parâmetros demográficos, clínicos e laboratoriais entre os dois grupos. Identificamos associação do escore de Kaupilla com DCV (DAC, IC) e tabagismo. Foi demonstrado que pacientes com escore de Adragão ≥ 3 são classificados em estágios mais avançados da DRC. Consideramos que o Escore de Adragão deveria ser incluído, junto ao Escore de Kaupilla, como método de avaliação de CV em pacientes com DRC, podendo ser, inclusive, mais específico para essa população.

INTRODUCTION: Patients with chronic kidney disease (CKD) have a high prevalence of vascular calcification (VC) in the intima, related to traditional risk factors, and in the media, related to non-traditional risk factors. There is a strong association between VC and cardiovascular disease (CVD), the main cause of death in these individuals. A VC can be effectively measured using simple radiographs of the hands, pelvis, and abdomen, with calculation of the Adragão and Kaupilla scores. OBJECTIVES: to assess the prevalence of VC and estimate cardiovascular risk, based on Adragão and Kaupilla scores, in kidney transplant recipients, in addition to associating VC scores with clinical and laboratory characteristics of patients. METHODS: Observational and cross-sectional study in a single center, with a random selection of 177 kidney transplant recipients. We collected data from the medical records, dosages of laboratory tests and simple radiographs. 26 individuals were excluded due to the lack of radiographs, totaling a sample of 151 patients. RESULTS: Prevalence of VC was 51.65%, 35.76%, and 42.38% considering, respectively, the overall VC index, the Adragão score, and the Kaupilla score. We observed that, concerning the global index, 43.7% of the patients were classified as having high cardiovascular risk. When we consider the Adragão and Kaupilla scores, they were 38.4% and 25.2%, respectively. Using the Adragão score, there were significant differences in the variables of age, Framingham score, diabetes mellitus (DM), stages of CKD, glucose, and glycated hemoglobin (HB1AC) measurements, comparing the high-risk group with the low cardiovascular risk group. Concerning the Kaupilla score, there were significant differences in the variables of age, Framingham score, coronary artery disease (CAD), heart failure (HF), smoking, and 25- hydroxyvitamin D dosages, comparing the high-risk group with the low cardiovascular-risk group. CONCLUSION: It was the first study to evaluate the prevalence of CV in kidney transplant recipients in Brazil. We found that more than half of the individuals had VC. We classified individuals into high and low cardiovascular risk, based on VC severity. Considering the Kaupilla score or the Adragão score, 43.7% of patients were classified as having high cardiovascular risk. We also made an association of demographic, clinical and laboratory parameters between the two groups. We identified an association between the Kaupilla score and CVD (CAD, HF) and smoking. It has been demonstrated tha patients with na Adragão score ≥ 3 are classified in more advanced stages of CKD. We consider that the Adragão score should be included, together with the Kaupilla score, as a method for assessing VC in patients with CKD, and may even be more specific for this population.