Introdução: A desnutrição, junto à sarcopenia e caquexia que podem ocorrer nos casos mais graves de câncer, e aos efeitos adversos dos tratamentos, influenciam negativamente o prognóstico e a qualidade de vida destes pacientes. O conhecimento das demandas energéticas é essencial para o manejo nutricional mais eficaz. A imprecisão das equações preditivas de gasto energético de repouso em pacientes com câncer justifica a importância dos estudos de validação para o aprimoramento destas ferramentas essenciais para na prática clínica nutricional. Objetivos: Validar a equação de Souza-Singer (2018) para estimativa de gasto energético de repouso, em pacientes com câncer de cabeça e pescoço em acompanhamento ambulatorial. Metodologia: Trata-se de um estudo clínico, transversal e observacional realizado com 94 indivíduos com diagnóstico de câncer cabeça e pescoço (CCP) em acompanhamento ambulatorial. Foram coletados dados demográficos, antropométricos, de composição corporal e de estado hídrico (bioimpedância unifrequencial e multifrequencial por espectroscopia) e de gasto energético de repouso medido (GERme) por calorimetria indireta (CI). Os dados foram descritos em médias, desvios padrão e frequências. A comparação entre grupos foi feita a partir de testes não paramétricos de Kruskal-Wallis e Mann-Whitney. E para as correlações foi utilizado o teste não paramétrico de Spearman. A concordância entre os resultados de CI a e da equação de Souza-Singer (2018) foi avaliada por Bland-Altman e pelo coeficiente de correlação intraclasses (ICC). Resultados: Dos 94 indivíduos avaliados neste estudo, a maioria não estava em tratamento antineoplásico vigente no momento da avaliação (86,2%), mais de um terço dos indivíduos encontrava-se no estágio 4 da doença, houve uma predominância do sexo masculino (76%), com idade média de 59 anos e a maior parte apresentava um estado de hipermetabolismo (69%). A faixa de IMC era de eutrofia para 36,2% deles, mas desnutrição (33%) e sobrepeso/obesidade (30,9%) também estavam presentes. Não foram identificadas diferenças significativas entre os grupos, segundo classificação do metabolismo. Na classificação dos grupos segundo distribuição hídrica, observou que 18,1% tinham sobrecarga hídrica, grupo que mostrou valores significativamente menores de AF. A MLG foi quantificada em maior quantidade pela BIA, em média 8kg a mais, e razão de GER por quilo de massa livre de gordura era significativamente menor para os HH, apenas com a MLG pela BIA, e não se alterou com a MLG pela BIS.Os valores médios de GERme foram 12% superiores ao GERest pela equação de Souza-Singer (2018), apresentando um ICC fraco (0,29), não confirmando a validação da equação preditiva de GER. Conclusão: Os resultados indicam que a validação da equação de Souza-Singer (2018) não foi confirmada na população estudada. A relação entre o estado nutricional, o estágio do câncer e o metabolismo é complexa e multifatorial, justificando a busca por equações preditivas mais direcionadas ao grupo de pacientes a ser avaliado.

Introduction: Malnutrition, together with the sarcopenia and cachexia that can occur in the most severe cases of cancer, and the adverse effects of treatments, negatively influence the prognosis and quality of life of these patients. Knowledge of energy demands is essential for more effective nutritional management. The inaccuracy of predictive equations for resting energy expenditure in cancer patients justifies the importance of validation studies to improve these essential tools for clinical nutritional practice. Objectives: To validate the Souza-Singer equation (2018) for estimating resting energy expenditure in patients with head and neck cancer undergoing outpatient follow-up. Methodology: This is a clinical, cross-sectional and observational study of 94 individuals diagnosed with head and neck cancer (HNC) undergoing outpatient follow-up. Demographic, anthropometric, body composition and water status data were collected (single and multi-frequency bioimpedance by spectroscopy) and resting energy expenditure measured (REEme) by indirect calorimetry (IC). The data were described as means, standard deviations and frequencies. Comparisons between groups were made using the non-parametric Kruskal-Wallis and Mann-Whitney tests. Spearman's non-parametric test was used for correlations. The agreement between the results of CI and the Souza-Singer equation (2018) was assessed by Bland-Altman and the intraclass correlation coefficient (ICC). Results: Of the 94 individuals assessed in this study, the majority were not on current antineoplastic treatment at the time of the assessment (86.2%), more than a third of the individuals were in stage 4 of the disease, there was a predominance of males (76%), with a mean age of 59 years and most had a state of hypermetabolism (69%). The BMI range was eutrophic for 36.2% of them, but malnutrition (33%) and overweight/obesity (30.9%) were also present. No significant differences were identified between the groups according to metabolism classification. When classifying the groups according to water distribution, 18.1% had water overload, a group that showed significantly lower PA values. FFM was quantified in greater quantity by BIA, on average 8kg more, and the ratio of REE per kilo of fat-free mass was significantly lower for HH, only with GLM by BIA, and did not change with FFM by BIS. The mean values of REEme were 12% higher than REEest by the Souza-Singer equation (2018), presenting a weak ICC (0.29), not confirming the validation of the GER predictive equation. Conclusion: The results indicate that the validation of the Souza-Singer equation (2018) was not confirmed in the population studied. The relationship between nutritional status, cancer stage and metabolism is complex and multifactorial, justifying the search for predictive equations more targeted to the group of patients being evaluated.