As epilepsias do córtex posterior (ECP) caracterizam-se por crises epilépticas recorrentes que têm origem nos lobos occipital, parietal e temporal posterior, ou mesmo em regiões multilobares do córtex posterior. Não há uma distinção anatômica ou neurofisiológica clara entre essas áreas corticais, e as zonas epileptogênicas (ZEs) nem sempre se encontram limitadas às bordas dos lobos occipital, parietal ou temporal posterior. Devido à baixa frequência desta forma de epilepsia e à dificuldade na localização da ZE, o tratamento cirúrgico para as ECP é menos comum do que para as regiões temporal anterior e frontal. Sabe-se que o córtex posterior é a região que envolve algumas das principais áreas sensoriais primárias, as quais são responsáveis pela identificação, integração e resposta a estímulos visuais, auditivos e táteis. Diferentes funções cognitivas podem compartilhar circuitos próximos ou intimamente relacionados, assim como funções similares podem ser organizadas a partir de diferentes circuitos. Entretanto, há uma escassez de estudos que investigaram o impacto cognitivo das ECP, sobretudo na população pediátrica. Nessa perspectiva, o presente estudo teve como objetivo avaliar o perfil de disfunção cognitiva de pacientes com ECP de difícil controle farmacológico. Trata-se de uma pesquisa observacional, retrospectiva, com crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos encaminhados para avaliação cirúrgica em um centro de referência em epilepsia. A avaliação neuropsicológica foi composta por uma extensa bateria de testes, com o intuito de descrever os aspectos da inteligência, atenção, funções executivas, memória, linguagem e organização visuoespacial. Os resultados demonstraram alterações cognitivas específicas associadas ao córtex posterior, com pior desempenho em tarefas dependentes de velocidade de processamento grafomotor, controle inibitório e flexibilidade cognitiva. Os achados são discutidos à luz da região cerebral e das demais variáveis clínicas da epilepsia, tais como lateralidade da ZE, etiologia e frequência de crises.

Posterior cortex epilepsies (PCEs) are characterized by recurrent epileptic seizures that originate in the occipital, parietal and posterior temporal lobes, or even in multilobar regions of the posterior cortex. There is no clear anatomical or neurophysiological distinction between these cortical areas, and epileptogenic zones (EZs) are not always limited to the edges of the occipital, parietal, or posterior temporal lobes. Due to the low frequency of this type of epilepsy and the difficulty in locating the EZ, surgical treatment for PCEs is less common than for the anterior temporal and frontal regions. It is known that the posterior cortex is the region that involves some of the main primary sensory areas, which are responsible for the identification, integration and response to visual, auditory and tactile stimuli. Different cognitive functions can share closely related circuits, just as similar functions can be organized from different circuits. However, there are few studies that investigated the cognitive impact of PCEs, especially in the pediatric population. In this perspective, the present study aimed to evaluate the profile of cognitive dysfunction in patients with drug-resistant PCEs. This is an observational, retrospective study with children and adolescents between 6 and 18 years referred for surgical evaluation at an epilepsy reference center. The neuropsychological assessment consisted of an extensive battery of tests, in order to describe aspects of intelligence, attention, executive functions, memory, language and visuospatial organization. The results showed specific cognitive alterations associated with the posterior cortex, with worse performance in tasks dependent on graphomotor processing speed, inhibitory control and cognitive flexibility. The findings are discussed in the light of the brain region and other clinical variables of epilepsy, such as laterality of EZ, etiology and seizure frequency.