Esta dissertação propõe uma análise da política presente nas práticas cotidianas populares, que partem do pé no chão das suas realidades e da fé em outros mundos possíveis. Aborda a relação entre a luta social daqueles que reivindicam o direito à cidade e a produção do espaço urbano. Busca compreender como tais práticas produzem espaços urbanos e quais os limites e potências para a real democratização das cidades. Tem como argumento central a defesa da existência de uma relação dialética entre cidade produz ocupação e ocupação produz cidade. Dizer que a cidade produz ocupação significa reconhecer que está inserida dentro do regime de produção capitalista do espaço, o que resulta em limites. Ao mesmo tempo, parte do entendimento de que a ocupação produz cidade, no sentido de reconhecê-la como uma forma de produção social do espaço urbano, não somente pela necessidade do morar, mas também como resistência a um contexto sociopolítico econômico que é por natureza desigual e excludente. Daí advém a sua potência transformadora. Parte-se da recuperação histórica da atuação das Comunidades Eclesiais de Base nas periferias paulistanas e do trabalho de campo realizado na ocupação urbana Jardim da União, no extremo sul da cidade de São Paulo. Abordar esses dois pontos permitiu refletir sobre permanências e deslocamentos ao longo das últimas décadas, como forma de contribuir para a compreensão sobre como as periferias são significadas e figuradas a depender do contexto, e romper com a visão dicotômica das diversas formas de produção do espaço urbano. Ao estudar o tema da política, a violência se interpôs como uma temática, uma vez que as trajetórias estudadas são atravessadas e marcadas por diversas modalidades de violência, de estigmas e de preconceitos.

This research proposes an analysis of the politics present in everyday practices, starting from the foot on the ground of their realities and from the faith in other possible worlds. It addresses the relationship between the social struggle of those who claim the right to the city and the production of urban space. It seeks to understand how such practices produce urban spaces and what are the limits and strengths for the real democratization of cities. Its central argument is the defense of the existence of a dialectical relationship between the ideas of the city produces occupation and occupation produces the city. Saying that the city produces occupation means recognizing that it is inserted within the capitalist regime of production of space, which results in limits. At the same time, it starts from the acknowledgment that occupation produces the city, in the sense of recognizing it as a form of social production of urban space, not only as result of the need to live, but also as a resistance to a sociopolitical and economic context that is by nature unequal and excluding. That´s where its transforming power comes from. It starts from the historical recovery of the operation of the Grassroots Ecclesial Community (Comunidades Eclesiais de Base) in the outskirts of São Paulo and from the field work carried out in the urban occupation of Jardim da União, in the extreme south of the city of São Paulo. Addressing these two ideas allowed the reflection about continuity and displacements over the past decades, as a way to contribute to the understanding of how the outskirts are represented and described depending on the context, and to breakout the dichotomous view of the various forms of production of urban space. When studying the politics, violence interposed itself as a theme, since the studied trajectories are crossed and marked by different forms of violence, stigmas and prejudices.