A pesquisa pretende investigar os desenhos realizados pela arquiteta iraquiana Zaha Hadid entre os anos de 1977 e 1994, que correspondem ao início de sua carreira. A produção da arquiteta é contextualizada em relação a uma condição contemporânea de porosidade entre arte e arquitetura. O foco está em compreender, através de análises de projetos de Hadid, a recuperação que a arquiteta realiza de procedimentos oriundos das vanguardas artísticas históricas do início do século XX. Esse resgate ocorre, no desenho, em diversos níveis: primeiramente, no uso de elementos abstratos oriundos das pinturas de Kazimir Malevich e Wassily Kandinsky, o que acompanha um interesse comum a esses pintores de liberar forças ocultas; com a diferença de que, na obra da arquiteta, não se trata de forças ocultas nos elementos da pintura, mas no próprio espaço arquitetônico. Em segundo lugar, identifica-se na obra de Hadid o procedimento de ostranênie (estranhamento), presente em obras de vanguardistas como Malevich e o arquiteto soviético Ivan Leonidov, que consiste em aumentar a complexidade da forma visando prolongar a duração da percepção. Por fim, a importância da perspectiva no desenho de Hadid é analisada; o fato da arquiteta multiplicar perspectivas diferentes do mesmo projeto em um único desenho, aponta para seu envolvimento com a paralaxe, muito cara aos modernistas. Já o curvamento do espaço perspectivo é reconhecido como uma atualização da tentativa das vanguardas de perturbar a perspectiva monocular, num contexto contemporâneo em que já não se pode cogitar eliminá-la completamente. Conclui-se que o espaço é o problema fundamental para a obra de Zaha Hadid, e ele se articula, sobretudo, por meio do desenho.

The research aims to investigate the drawings made by Iraqi architect Zaha Hadid between 1977 and 1994, which correspond to the beginning of her career. Her work is contextualized in relation to a condition of contemporary porosity between art and architecture. The focus is on understanding, through the study of Hadid's projects, the architect's retrieval of procedures from the artistic avant-gardes of the early 20th century. This retrieval rescue occurs, in Hadids drawing, on many levels: first, in the use of abstract elements from the paintings of Kazimir Malevich and Wassily Kandinsky, together with a shared interest among these painters to release hidden forces, with the difference that, in the architect's work, it is not about forces hidden in the elements of painting, but in architectural space itself. Second, Hadids use of the procedure of ostranenie (estrangement) is identified. It is present in works by avant-garde artists such as Malevich and the Soviet architect Ivan Leonidov, consisting of increasing complexity in form as a means of extending the duration of perception. Finally, the importance of perspective in Hadid's drawing is analyzed; the fact that the architect multiplies different perspective views of the same project in a single drawing, points to her involvement with the notion of parallax, very dear to modernists. Her spatial warping of perspective is recognized as a renewal of the avant-garde's attempt to disturb monocular perspective, in a contemporary context in which it is no longer possible to consider eliminating it completely. It is concluded that the fundamental problem for the work of Zaha Hadid is space, which is articulated above all through drawing.