Esta tese procurou contextualizar e analisar as reverberações, em Vitória, capital do Espírito Santo, dos debates que movimentaram o campo artístico contemporâneo, sobretudo, a partir da década de 1990, vinculando os termos arte e democracia. Tal vínculo pode ser associado tanto à emergência de um vocabulário novo no universo da arte (participação, colaboração, extradisciplinaridade etc.) quanto às expectativas criadas em torno da noção de globalização e das novas possibilidades de comunicação propiciadas pela internet. Embora seu caráter retórico ou apenas potencial já tenha sido apontado em estudos críticos, somente nos últimos anos isso ficou notório. A tese adotada nesta pesquisa, portanto, é a de que os mecanismos democráticos amplamente difundidos na virada do milênio, ao contrário de sua aparente função transformadora, atuavam como formas camufladas de apaziguamento, preservando o estrato hierárquico clássico. O recorte espacial selecionado para a discussão foi uma capital periférica brasileira, enquanto o recorte temporal considerou que um momento expressivo dos debates envolvendo arte e democracia em Vitória ocorreu na primeira década do século XXI. Adotando as ações e projetos desenvolvidos por coletivos e pelo poder público como guia, identificando suas referências, propósitos e limitações impostas ou autoimpostas, em cada um dos capítulos, o microcosmo do campo artístico capixaba constituiu um exemplo emblemático de que quanto mais distante dos pontos hegemônicos se observam tais práticas democráticas, tanto internacionais quanto nacionais, melhor podem ser detectados seus traços míticos, entre as quais a noção de que as fronteiras entre centro e periferia estavam sendo redesenhadas.

This dissertation sought to both contextualize and analyze the reverberations in Vitória, Espírito Santo's capital city, of the debates that moved the contemporary artistic field, especially since the 1990s, linking the terms Art and democracy. Such a link can be associated with both the emergence of a new vocabulary in the art universe (participation, collaboration, extra-disciplinarity etc.), and the expectations created around the notion of globalization and the new possibilities of communication provided by the Internet. Although its rhetorical or just potential character has already been pointed out in critical studies, it has only become apparent in recent years. The thesis adopted in this research, therefore, is that democratic mechanisms widely diffused at the turn of the millennium, contrary to their apparent transforming function, acted as camouflaged forms of appeasement, preserving the classical hierarchical stratum. The spatial cut selected for the discussion was a Brazilian peripheral capital, while the temporal cut considered that the most expressive moment of the debates involving art and democracy in Vitória occurred in the first decade of the 21st century. By adopting the actions and projects developed by art collectives and by the public sector as a guide, the identification of references, purposes and limitations imposed or self-imposed in each of the chapters, the microcosm of the art field of Espírito Santo was an emblematic example that the more distant from the hegemonic points one observes such democratic practices, both international and national, the better its mythical features can be detected, including the notion that the boundaries between center and periphery were being redrawn.