Esta pesquisa de mestrado realiza o inventário arquitetônico de fazendas construídas nos sertões do Acaraú, Coreaú e Serra da Ibiapaba, datadas do século XIX e das primeiras décadas do século XX, bem como de seu acervo de artefatos e documentos. Analisa as propriedades na lógica do processo de urbanização de sertões transfronteiriços entre o Ceará e o Piauí, por meio do estudo dos diversos agentes e agências ali operantes Estado, Igreja, fazendeiros, indígenas e povos de matriz africana que imprimiram aos espaços saberes tradicionais fruto de encontros, transferências e formas de resistência cultural. Analisados à luz das dinâmicas da economia do criatório e da lavoura, esse patrimônio material e imaterial descortina saberes e fazeres, modos de ser e estar, informando sobre a fábrica arquitetônica e sociabilidades. Valendo-se da metodologia da Arqueologia da Paisagem (Bueno, 2021), em perspectiva de longa duração (Braudel, 1949), a pesquisa mobiliza e entrecruza fontes primárias heterogêneas e conexas, textuais e visuais dos séculos XVII a XX, buscando espacializá-las na cartografia coeva da Capitania de Pernambuco e Siará Grande, depois Província do Ceará. Para a leitura da paisagem e arquitetura das fazendas, utilizou-se, fundamentalmente, os inventários post-mortem dos proprietários, alinhavados às informações recolhidas em manuscritos pertencentes ao Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, desenhos e relatos da Comissão Científica de Exploração, realizada em 1859-1861, livros de genealogia, relatórios oficiais e leis provinciais, além da literatura disponível sobre esses sertões. As fontes primárias entrecruzadas e espacializadas, somadas ao minucioso levantamento arquitetônico e fotográfico das 57 propriedades rurais ali existentes, por meio do instrumental das Humanidades Digitais (SIGs Históricos) permitem revolver camadas de historicidade e representações ancestrais ainda inexploradas pela historiografia. De caráter interdisciplinar, esta pesquisa agrega à geo-história novos dados sobre saberes e fazeres vernaculares de rara beleza, delicadeza e singeleza, pondo luz num patrimônio material e imaterial ainda carente de visibilidade e distante das políticas de preservação.

This master's research carries out an architectural inventory of farms built in the backlands of Acaraú, Coreaú, and Ibiapaba mountains including their artifacts and documents, dating from the 19th century and the first decades of the 20th century. It analyses the properties under the logic of the urbanization process of cross-border hinterlands between Ceará and Piauí, by studying the various agents and agencies operating there State, Church, farmers, indigenous people, and people of African origin who imparted traditional knowledge to the spaces that result from encounters, transfers, and forms of cultural resistance. Analyzed considering the dynamics of the livestock and farming economy, this material and immaterial heritage reveals knowledge and practices, ways of being, informing about the architectural factory and sociability. Using the methodology of Landscape Archeology (Bueno, 2021), with a long-term perspective (Braudel, 1949), this research mobilizes and intertwines heterogeneous, connected, textual and visual primary sources from the 17th to 20th centuries, seeking to spatialize them in the coeval cartography of the Captaincy of Pernambuco and Siará Grande, later Province of Ceará. To understand the landscape and the farms architecture, the post-mortem inventories of the owners are fundamental, combined with information collected in manuscripts that belong to the Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, drawings and reports from the Comissão Científica de Exploração carried out in 1859-1861, genealogy, books, provincial laws, and available literature about these hinterlands. The intertwined and spatialized primary sources, added to the detailed architectural and photographic survey of the 57 rural properties, through the instruments of Digital Humanities (Historical GIS), allow us to reveal layers of historicity and ancestral representations that are still unexplored by historiography. Of an interdisciplinary nature, this research adds new data to geohistory on vernacular knowledge and practices of rare beauty, delicacy, and simplicity, material and immaterial heritage that still lacks visibility and is far from being reached by preservation policies.