Desde o tratado De architectura escrito por Vitruvio na Antiguidade Clássica até os estudos realizados nas últimas décadas, a imagem do arquiteto vem sendo caracterizada por heroísmo, criatividade, genialidade e elitismo, muitas vezes oferecendo uma visão romantizada da profissão. Contudo, imagem é uma representação que nem sempre reflete a realidade. Da Antiguidade ao Iluminismo, a figura arquitetônica é associada ao polímata, ao artista, ao gênio. A partir da Revolução Industrial, profundas transformações econômicas, políticas e sociais estabelecem uma nova organização do trabalho, em que os profissionais passam a atuar em segmentações cada vez mais especializadas. O papel do arquiteto ficou associado à função estética e, ao tentar justificar sua importância em termos simbólicos, começou a perder visibilidade quando comparado a profissionais cujos papéis se apresentavam como mais objetivos. Durante o Movimento Moderno, o arquiteto reivindicou sua autonomia e sua imagem de herói, porém foi pouco reconhecido pelo público, que ainda sofria graves consequências da Primeira Guerra Mundial. Desse período em diante, as transformações passam a ser ainda mais velozes, ocasionadas pelo fenômeno da globalização. O grande desenvolvimento das comunicações e o forte crescimento da cultura de consumo alimentaram a construção de uma imagem de arquiteto em torno a uma aura de genialidade, mas ao mesmo tempo, a atuação do profissional passa a ser cada vez mais fragmentada, provocada pelo estímulo à racionalização da produção. O cenário é dividido entre uma ampla parcela de arquitetos cotidianos trabalhando em condições cada vez mais competitivas e uma pequena quantia de arquitetos notórios, mas que apesar de limitada, parece ser responsável por disseminar uma imagem glamorosa da profissão à sociedade, como se fosse uma característica generalizável por toda a classe. Desta forma, entende-se que a evolução da imagem do arquiteto não acompanhou a evolução de suas práticas no mesmo ritmo, ocasionando tensões e desafios para a profissão. Este trabalho tem como objetivo analisar a relação entre a imagem e a identidade profissional do arquiteto, ou, em outras palavras, compreender a percepção do público a respeito desse profissional (imagem) e como ele percebe a si mesmo (identidade). Tendo como ponto de partida o processo de construção da imagem e da identidade do arquiteto, este estudo realizou atividades com clientes e arquitetos envolvidos em obras de reforma residencial de pequeno porte. A análise dos dados gerados pelas atividades indicou que os clientes entendem que o papel do arquiteto é valioso em sete temas, a saber: Pré-requisitos para contratação, Processo criativo, Empatia, Comunicação, Execução de obra, Custos e Conhecimento em sustentabilidade ambiental. Os arquitetos demonstraram estar cientes dessas demandas, com exceção do interesse de clientes no Conhecimento em sustentabilidade ambiental. Identificou-se, portanto, que há um certo alinhamento geral entre a imagem e a identidade do arquiteto neste perfil de atuação. No entanto, ainda assim, existem detalhes importantes dessa relação que são despercebidos pelos arquitetos. A partir dos achados, espera-se contribuir para a formulação de estratégias de posicionamento mais assertivas na área de arquitetura, visando ampliar e qualificar a atuação dos profissionais.

From the treatise De architectura written by Vitruvio in Classical Antiquity to the studies carried out in recent decades, the image of the architect has been characterized by heroism, creativity, genius and elitism, often presenting a romanticized view of the profession. However, this image is a representation that does not always reflect reality. From Antiquity to the Enlightenment, the architectural role is associated with the polymath, the artist, the genius. From the Industrial Revolution onwards, profound economic, political and social transformations established a new work order, in which professionals began to work in increasingly specialized segments. The role of the architect became associated with the aesthetic function and, when trying to justify its importance in symbolic terms, it began to lose visibility when compared to professionals whose roles appeared to be more objective. During the Modern Movement, the architect claimed his autonomy and his image as a hero, but he was little recognized by the public, who was still suffering serious consequences from the First World War. From this period on, the transformations became even faster, caused by the phenomenon of globalization. The great development of communications and the strong growth of consumer culture fueled the construction of an architect's image around an aura of genius, but at the same time, the professional's practice becomes increasingly fragmented, driven by the stimulus to rationalize the production. The scenario is divided between a large portion of everyday architects working in increasingly competitive conditions and a small portion of notorious architects, that seems to be responsible for disseminating a glamorous image of the profession to society, as if it represented a generalizable characteristic across the entire class. In this way, it is understood that the evolution of the architect's image did not follow the evolution of their practices at the same pace, causing tensions and challenges for the profession. This work aims to analyze the relationship between the image and the professional identity of the architect, or, in other words, to understand the public's perception of this professional (image) and how he perceives himself (identity). Taking as starting point the building process of the architect's image and identity, we conducted an activity with clients and architects involved in small residential renovation works. The analysis of the data generated by the activities demonstrated that clients understand that the architect's role is valuable in eight themes: Prerequisites for contracting, Creative process, Empathy, Communication, Execution, Costs, and Environmental Sustainability Knowledge. The architects demonstrated to be aware of these demands, except for the clients' interest in the Knowledge in environmental sustainability. It was identified, therefore, that there is an alignment between the image and the identity of the architect in this profile. However, there are important details of this relationship that are overlooked by architects. Based on the findings, it is expected to contribute to the formulation of more assertive positioning strategies in architecture, aiming to expand and qualify their professional practice.