A socialização do consumidor é um processo em que um indivíduo passa para adquirir conhecimentos, habilidades e atitudes em relação ao consumo. Devido a sociedade alterar suas crenças e percepções sobre os mais diversos assuntos ao longo do tempo, a socialização do consumidor também sofre alterações. Nas últimas décadas, a criança tem desempenhado um papel dentro do contexto familiar diferente do que acontecia nas gerações anteriores. Essa alteração vem na esteira de mudanças na sociedade como políticas garantidoras de educação, alteração de currículo escolar, acessibilidade à tecnologia, proteção contra trabalho infantil, proteção contra abusos físicos, diminuição da fertilidade da população e alteração de estilos parentais mais restritivos para mais abertos. Esses fatores têm contribuindo para uma mudança na forma tradicional de socialização: a socialização reversa. A socialização reversa ocorre quando a criança cresce adquirindo mais conhecimento que os seus pais obtiveram em seu processo de socialização, e estes se interessam em aprender com os filhos. A geração de indivíduos mais recente é denominada Geração Alfa, nascidos a partir de 2010 sendo socializados num ambiente com altos estímulos provocados pela revolução digital, diferentemente das gerações anteriores. Desta forma, o objetivo da presente pesquisa é investigar quais fatores influenciam o processo de socialização reversa de famílias brasileiras. Para tanto, foi realizada uma pesquisa qualitativa em duas etapas: coleta de desenhos com crianças de 7 a 11 anos em uma escola estadual e entrevistas em profundidade com famílias. A análise dos dados se deu por meio de triangulação de ambas as coletas. Os desenhos foram analisados conforme literatura pesquisada e as entrevistas foram transcritas verbatim e codificadas por meio de Software Atlas.ti. Os resultados indicam que a socialização reversa é manifesta em consumo de eletrônicos, consumo de roupas, atitudes pró-ambientais, atividade física, relações interpessoais e inteligência emocional. Contrário à literatura pesquisada, a socialização reversa não foi observada no consumo de futebol, viagens e alimentos. Os fatores que facilitam a socialização reversa são: tecnologia, escola e estilo parental. Os pais relatam ter aversão à adoção à inovação, percebem a diferença do ensino escolar atual com o que tiveram quando eram crianças e confessam criar os seus filhos de maneira mais aberta se comparado à forma como foram criados. As marcas podem se debruçar sobre os achados e refletir sobre as inovações estarem impactando negativamente a experiência do usuário, a adoção à inovação e o bem-estar digital de gerações anteriores à Geração Alfa. A partir dos achados, gestores públicos podem planejar ações educacionais aos pais da Geração Alfa no intuito de diminuir os efeitos negativos da lacuna geracional. A população geral também poderá refletir sobre a educação que estão dando aos seus filhos e suas possíveis consequências positivas e negativas. Avenidas futuras de pesquisa incluem estudar como a socialização reversa pode ser bem utilizada para ações de marketing social, visto que já existem estudos não relacionados ao marketing que comprovam a eficiência da Geração Alfa em ajudar seus pais a prevenir doenças.

Consumer socialization is a process that an individual goes through to acquire knowledge, skills and attitudes towards consumption. Because society changes its beliefs and perceptions on a wide range of subjects over time, consumer socialization also changes. In recent decades, children have played a different role within the family context than in previous generations. This change comes in the wake of changes in society such as policies guaranteeing education, changes to the school curriculum, accessibility to technology, protection against child labor, protection against physical abuse, a decrease in the fertility of the population and a shift from more restrictive to more open parenting styles. These factors have contributed to a reverse logic of consumer socialization: reverse socialization. Reverse socialization occurs when children grow up acquiring more knowledge than their parents obtained in their socialization process, and the parents are interested in learning from their children. The most recent generation of individuals is called Generation Alpha, born after 2010, who are being socialized in an environment with high stimuli caused by the digital revolution, unlike previous generations. The aim of this research is to investigate which factors influence the reverse socialization process in Brazilian families. To this end, a two-stage qualitative study was carried out: collecting drawings from children aged 7 to 11 in a state school and in-depth interviews with families. The data was analyzed by triangulating both data collections. The drawings were analyzed according to the research literature and the interviews were transcribed verbatim and coded using Atlas.ti software. The results indicate that reverse socialization is manifested in electronics consumption, clothing consumption, pro-environmental attitudes, physical activity, interpersonal relationships and emotional intelligence. Contrary to the literature, reverse socialization was not observed in the consumption of soccer, travel and food. The factors that facilitate reverse socialization are: technology, school and parenting style. Parents report having an aversion to adopting innovation, perceive a difference between current school education and the way they were taught as children and confess to raising their children in a more open way compared to the way they were raised. Brands can benefit from the findings by reflecting on whether innovations are negatively impacting the user experience, innovation adoption and digital well-being of generations before Generation Alpha. Based on the findings, public managers can plan educational actions for Generation Alpha parents in order to reduce the negative effects of the generational gap. The general population will also be able to reflect on the education they are giving their children and its possible positive and negative consequences. Future avenues of research include studying how reverse socialization can be put to good use for social marketing actions, since there are already non-marketing studies that prove the effectiveness of Generation Alpha in helping their parents prevent illness.