O fenômeno dual-career tem sido explorado através da ótica dos casais engajados em suas carreiras, e que ao mesmo tempo, mantêm um compromisso com a família. Neste contexto, os estudos sobre dual-career estiveram atentos às questões de gênero, à medida em que discutem as transformações ocorridas nos papéis tradicionalmente atribuídos à mulher e ao homem, que navegam pelas esferas do trabalho e da família. Contudo, enquanto um corpo teórico consistente foi criado em torno das relações que envolvem o trabalho e a família para os casais heteroafetivos, pouco se sabe sobre as relações que envolvem a mesma interface para os casais homoafetivos, que por sua vez, levam a pauta da diversidade até as organizações. Diante disso, este estudo buscou compreender como os casais homoafetivos, formados por pessoas do mesmo sexo, vivenciam a relação trabalho-família no contexto da dual-career. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa, com dez casais homoafetivos, seis casais masculinos e quatro casais femininos. Foram conduzidas entrevistas individuais, totalizando vinte pessoas entrevistadas. A análise dos dados foi realizada através da técnica de análise de narrativa. Quatro categorias de análise foram geradas e discutidas. A primeira categoria, intitulada “A identidade homossexual como produto da socialização”, evidenciou a maneira como os entrevistados reconhecem suas identidades sexuais e como elas são socializadas. Aqui foi possível verificar que cada um manifesta seu próprio processo de reconhecimento e desenvolvimento da identidade homossexual, e com base nesse processo, sente-se pertencido, ou não, à comunidade LGBTQIA+. A segunda categoria, “A carreira customizada à identidade homossexual”, mostrou que a trajetória profissional dos entrevistados está costurada às suas identidades sexuais. Esse entrelace foi percebido através dos relatos que evidenciaram as escolhas de carreira sendo feitas sob a influência da condição minoritária carregada pela homossexualidade, e as dificuldades enfrentadas no ambiente de trabalho. A terceira categoria, nomeada “O protagonismo está na família”, chamou a atenção sobre as relações entre o trabalho e a família, para os casais que vivem a dual-career. De maneira geral, a família é colocada à frente do trabalho nas decisões que envolvem o direcionamento de carreira. Por fim, a quarta categoria, intitulada “A dual-career em uma leitura interseccionada”, identificou os relatos dos entrevistados que apontaram para formas combinadas de preconceito e discriminação sofridas por eles ao longo de suas experiências de vida e profissionais. Tais relatos demonstram que, para além da homofobia, os entrevistados enfrentam discriminação por pertencerem a outras categorias identitárias, como o gênero, a classe social, a étnico-racial e a geracional. Os resultados desta pesquisa demonstraram que os casais homoafetivos vivenciam a relação trabalho-família de maneira única, evidenciando para as organizações, a necessidade de se olhar para a dimensão familiar, e não somente individual, em suas práticas e políticas de promoção e inclusão da diversidade. Como sugestão para estudos futuros, indica-se a inclusão de mais identidades sexuais e de gênero em torno da comunidade LGBTQIA+, que possam contribuir para o desenvolvimento da temática da dual-career.

The dual-career phenomenon has been explored through the perspective of couples who are engaged in their careers, while also maintaining a commitment with their families. In this context, studies about dual-career have been attentive to gender issues, as they discuss the transformations that have occurred in the roles traditionally assigned to women and men, that navigate the spheres of work and family. However, though a consistent set of studies has been built around the relationships involving work and family for heteroaffective couples, little is known around the relationships involving the same matter for homoaffective couples, who in turn, take the diversity agenda to the organizations. Thus, this research sought to comprehend how homoaffective couples, same-sex individuals, experience the work-family relationship in the context of dual-career. For this reason, a qualitative approach research was conducted, including ten homoaffective couples, being six male couples and four female couples. Individual interviews were conducted, totalizing twenty people interviewed. Data analysis was performed using the narrative analysis technique. Four categories of analysis were generated and discussed. The first category, entitled “Homosexual identity as a product of socialization”, highlighted the way in which the interviewees recognize their sexual identities and how they are socialized. In this stage, it was possible to demonstrate that each individual manifests their own process of recognition and development of their homosexual identity, and based on this process, they may or may not feel belonged to the LGBTQIA+ community. The second category, “The career tailored to the homosexual identity”, showed that the interviewees' professional trajectory is tied to their sexual identities. This entanglement was perceived through the reports that highlighted the career choices being made under the influence of the minority condition carried by homosexuality, and the difficulties faced in the work environment. The third category, entitled “The leading role belongs to the family”, drew attention to the relationship between work and family, for couples who live the dual-career. In general, family is placed above work in decisions that involve career direction. Finally, the fourth category, entitled “Dual-career in an intersecting view” analyzed the interviewees’ accounts who identified different forms of prejudice and discrimination suffered by them throughout their life and professional experiences. Such accounts demonstrate that, beyond homophobia, interviewees face discrimination for belonging to other identity categories, such as gender, social class, ethnic-racial and generational. The results of this research have demonstrated that homoaffective couples experience the work-family relationship in a unique manner, highlighting to the organizations the need to look within the family dimension, and not only in an individual aspect, in their practices and policies to promote and include diversity. As a suggestion for future studies, the inclusion of more gender and sexual identities around the LGBTQIA+ community is indicated, which can contribute to the development of the dual-career thematic.