O crédito rural tem sido um elemento importante para o desenvolvimento socioeconômico da agropecuária brasileira ao longo das últimas seis décadas. Devido à sua própria natureza, o crédito rural poderá não ser igualmente oferecido a todas as atividades e a todos agricultores, e é possível que os seus contemplados não estejam igualmente distribuídos regionalmente no país. Motivado a examinar esta ocorrência e a evolução da mesma, o objetivo geral desta tese é analisar a concentração e a desigualdade na distribuição do crédito rural na agropecuária brasileira, identificando e quantificando os determinantes desses processos. Isto é feito por meio de dois capítulos-artigos. O primeiro capítulo-artigo visa analisar a evolução da concentração e da desigualdade na distribuição do crédito rural no Brasil, consoante grupos de agricultores, modalidades e produtos contemplados, mediante a utilização de dados do Banco Central do Brasil de 1969 a 2021 e dos Censos Agropecuários de 2006 e de 2017. Para tanto, a metodologia empregada foi uma pesquisa basicamente de caráter exploratório e explicativo. As principais conclusões desse capítulo foram: (a) propriedades de terra acima de 1000 hectares vêm absorvendo maiores montantes de financiamento, o que vem aumentando a concentração na distribuição de crédito rural no Brasil nos anos 2000; (b) sob o ponto de vista das finalidades do crédito, os resultados apontaram que tem havido aumento na concentração do crédito de custeio em favor das culturas de exportação nas últimas três décadas entre agricultores não familiares (o mesmo não ocorreu entre os agricultores familiares); (c) a distribuição de crédito de custeio pecuário é concentrada em bovinos; (d) a distribuição do crédito de investimento agrícola é concentrada na modalidade de máquinas e equipamentos, ao passo que o crédito de investimento pecuário se concentra nas modalidades de aquisição de animais e máquinas e equipamentos; e (e) a desigualdade na distribuição do crédito é muito maior entre os agricultores familiares do que entre os agricultores não familiares. O segundo capítulo-artigo examinou os determinantes do acesso ao crédito rural por grupos de agricultores (familiar versus não familiar). Para tanto, utilizaram-se dados municipais dos Censos Agropecuários de 2006 e de 2017 e do Ipeadata para estimar modelos lógite. Em linhas gerais, os resultados indicaram que: (a) o cultivo da soja e do café se destacam como mais motivadores ao município obter crédito rural; (b) a bovinocultura e a suinocultura são as duas principais atividades da pecuária que influenciam no acesso ao crédito por parte do município; e (c) a distância exerceu efeito positivo na probabilidade de o município ter acesso ao crédito rural, contrariando o advogado por estudos internacionais de que regiões mais próximas dos grandes centros urbanos tendem a ser mais favorecidas com acesso ao crédito. Esses dois capítulos-artigos permitem um “novo olhar” ao evidenciar que a Política de Crédito Rural no Brasil é concentradora, desigual e seletiva (a despeito da criação de programas para atender aos pequenos produtores), evidenciando os determinantes deste processo.

Rural credit has played an important hole in the Brazilian agriculture socioeconomic development over the last six decades. Due to its proper characteristic, rural credit would not be evenly offered to all activities and to all farmers, neither would its beneficiaries be equally and regionally distributed inside the country. Motivated to examine this situation, the general objective of this thesis is to analyze the concentration and inequality in the distribution of rural credit in the Brazilian agriculture, identifying and quantifying the determinants of these processes. To achieve this general objective, the thesis is organized in two chapter-articles. The first chapter-article aims to analyze the evolution of concentration and inequality in the distribution of rural credit in Brazil, according to groups of farmers, purposes and products, using data from the Brazil s Central Bank from 1969 to 2021 as well as the 2006 and 2017 Agricultural Census databases. The methodology is basically an exploratory and analytical research. The main conclusions of this chapter were: (a) farms holding areas over 1000 hectares have received the largest amounts of financing, which has increased the concentration in the distribution of credit in Brazil; (b) looking into the purpose of rural credit, the results indicated that there has been an increase in the concentration of credit in favor of exporting crops in recent decades among non-family farmers; (c) the distribution of livestock funding credit is concentrated in cattle; (d) the distribution of credit for agricultural investment is concentrated in the modality of machinery and equipment, while the credit for livestock investment is concentrated in the modalities of animals, machinery and equipment purchases; and (e) inequality in the distribution of credit is much greater among family farmers compared to non- family farmers. The second chapter-article examined the determinants of access to rural credit considering groups of farmers (family versus non-family). For this purpose, city data from the 2006 and 2017 Agricultural Census as well as Ipea s dataset were used to estimate logit models. The main findings are: (a) soybean and coffee crops stand out as the most motivating activities for cities to obtain rural credit; (b) cattle and pig breeding are the two main livestock activities that influence cities' access to credit; and (c) the distance had a positive impact on the probability of the city in having access to rural credit, what is opposite what international studies have advocated: inland regions closer to larger urban centers tend to be more favored with credit. These two article-chapters shed a “new look” by showing that the rural credit policy in Brazil is concentrative, unequal and selective (despite Federal Programs that favored the smallest farmers), highlighting the determinants of this process.