Esta dissertação teve por objetivo estudar os frames utilizados por mulheres para interpretarem eventos ou experiências, suas ou de outras mulheres, com assédio sexual, por meio da análise de conteúdo de vídeos postados na plataforma YouTube. Para tanto, foram coletados vídeos na plataforma YouTube, em janeiro de 2020, mediante buscas com palavras-chave relacionadas a assédio, para, a partir do corpus selecionado, analisar o conteúdo dos vídeos, com a finalidade de apresentar como resultados os frames do movimento feminista e o modo como são operados por essas mulheres em suas narrativas sobre assédio sexual. Além disso, analisou-se a promulgação da Lei nº 13.718, criadora do crime de importunação sexual, em vigor desde 24 de setembro de 2018, quanto à sua influência nessas interpretações de assédio sexual. Para desenvolver esta pesquisa, adotei como base teórica os estudos de enquadramentos interpretativos do movimento social (BENFORD; SNOW, 2000; PEREIRA; SILVA, 2017; SILVA; COTANDA; PEREIRA, 2017; SNOW et al., 1986; SNOW; BENFORD, 1988), os quais atentam às práticas interpretativas da vida cotidiana e às construções de significados feitas pelos movimentos sociais para mobilizar os indivíduos. Ainda nessa perspectiva, utilizo o termo assédio sexual para analisar narrativas sobre atenção sexual indesejada e categorizo os resultados dessa análise como frames do movimento feminista, com base no trabalho de Marshall (2003) sobre o mesmo tema. Em termos metodológicos, trata-se de pesquisa empírica com abordagem qualitativa, na qual utilizei a análise de conteúdo (BARDIN, 1977; BAUER, 2002) para examinar as mensagens dos frames do movimento feminista (PEREIRA, 2016). O corpus analisado foi constituído por dez vídeos postados antes da promulgação da nova lei que tipificou a importunação sexual como crime e dez vídeos postados após a promulgação dessa lei. Foram selecionados apenas vídeos de narrativas de mulheres, sem vinculação com veículos de imprensa ou órgãos governamentais, tratando de assédio sexual. Na análise dos dados, tive como base as dimensões diagnóstico, prognóstico e motivação de Snow e Benford (1986) e cheguei a uma divisão dos frames usados pelas mulheres em três categorias de frames: individual, social e estatal. Os resultados mostraram que os frames individual e social são os mais usados pelas analisadas para interpretarem casos de assédio sexual. Esses frames também mostraram influência na criação do crime de importunação sexual. Após a promulgação da Lei nº 13.718/2018, verifiquei um aumento no uso do frame estatal, porém, preferencialmente por mulheres da área do Direito. Com isso concluo que os frames individual e social do movimento feminista são de maior relevância nas interpretações de mulheres sobre assédio sexual que os fornecidos ou direcionados ao Estado (frame estatal).

This dissertation aimed to study the frames used by women to interpret events or experiences, their own or of other women, with sexual harassment, through content analysis of videos posted on the YouTube platform. To do so, videos were collected on the YouTube platform, in January 2020, through searches with keywords related to harassment, in order to, from the selected corpus, analyze the content of the videos, with the purpose of presenting as results the frames of the feminist movement and the way they are operated by these women in their narratives about sexual harassment. In addition, the enactment of Law No. 13,718, creating the crime of sexual harassment, in force since September 24, 2018, was analyzed as to its influence on these interpretations of sexual harassment. To develop this research, I adopted as theoretical basis the studies of social movement interpretive framings (BENFORD; SNOW, 2000; PEREIRA; SILVA, 2017; SILVA; COTANDA; PEREIRA, 2017; SNOW et al., 1986; SNOW; BENFORD, 1988), which pay attention to the interpretive practices of everyday life and the constructions of meanings made by social movements to mobilize individuals. Also from this perspective, I use the term sexual harassment to analyze narratives about unwanted sexual attention and categorize the results of this analysis as frames of the feminist movement, based on the work of Marshall (2003) on the same theme. In methodological terms, this is empirical research with a qualitative approach, in which I used content analysis (BARDIN, 1977; BAUER, 2002) to examine the messages of the feminist movement frames (PEREIRA, 2016). The analyzed corpus consisted of ten videos posted before the enactment of the new law that typified sexual harassment as a crime and ten videos posted after the enactment of this law. Only videos of women's narratives were selected, with no connection with press vehicles or government agencies, dealing with sexual harassment. In analyzing the data, I drew on Snow and Benford's (1986) diagnostic, prognostic, and motivational dimensions and arrived at a division of the frames used by women into three categories of frames: individual, social, and state. The results showed that the individual and social frames are the most used by the analyzed women to interpret sexual harassment cases. These frames also showed influence in the creation of the crime of sexual harassment. After the enactment of Law No. 13.718/2018, I verified an increase in the use of the state frame, however, preferentially by women in the field of law. With this I conclude that the individual and social frames of the feminist movement are of greater relevance in women's interpretations of sexual harassment than those provided or directed to the state (state frame).