Os sistemas agroalimentares convencionais reproduzem e aprofundam desigualdades sociais, como a desigualdade de gênero, cuja raiz está na divisão sexual do trabalho. Em oposição, na zona rural, o acesso a pequenas porções de terra e a necessidade de alimentar as famílias aproximaram as mulheres ao campo agroecológico, por conta da diversidade de espécies cultivadas e dos poucos recursos disponíveis para a modernização agrícola. No município de São Paulo, existem 735 Unidades de Produção Agropecuária e 28% delas são chefiadas por mulheres. O objetivo desta tese foi contribuir com a construção de conhecimento sobre mulheres agricultoras e agroecologia, para apoiar a elaboração e aprimoramento de políticas públicas e iniciativas socioambientais comprometidas com a soberania alimentar. Por meio da revisão de literatura, buscou-se encontrar os nexos entre agroecologia e a atuação de mulheres agricultoras a partir da perspectiva feminista, e avaliar se fatores como a divisão sexual do trabalho, especialmente a responsabilidade pela alimentação da família e a participação em redes e/ou mercados sensíveis à diversificação influenciam a agrobiodiversidade existente na agricultura realizada por um grupo de mulheres no município de São Paulo. Buscou-se também analisar o papel das redes e das políticas públicas na consolidação de técnicas de manejo agroecológicas, assim como na visibilização do trabalho de mulheres agricultoras. Para discutir o arcabouço teórico e o alcance das redes e políticas públicas, foi realizado um estudo qualitativo, utilizando como metodologia a etnografia que foi desenvolvida a partir da participação nos encontros presenciais e online da Rede das Agricultoras Paulistanas Periféricas Agroecológicas (RAPPA) e pela realização de entrevistas semi-estruturadas com 12 mulheres envolvidas com agroecologia e alimentação nas periferias paulistanas. Os resultados indicam que, a responsabilidade das mulheres pelo trabalho reprodutivo, como apontada pela literatura, é um dos fatores que influenciam na produção biodiversa das mulheres agricultoras. Entretanto, é importante destacar que também há outras motivações, como a geração de renda, a busca por autonomia, o resgate de conhecimentos ancestrais e o próprio reconhecimento de suas práticas enquanto trabalho. As análises também sugerem que, apesar de existirem políticas públicas ligadas à agroecologia no município, poucas mulheres as acessam, o que reduz o acesso delas a terra, crédito, assistência técnica e mercados. Assim, sugere-se a necessidade de algumas mudanças na forma como as políticas públicas para a agricultura e para as mulheres têm sido estruturadas e implantadas no município.

Conventional agro-food systems reproduce and deepen social inequalities, such as gender inequality, whose roots are in the sexual division of labor. In contrast, in rural areas, access to small portions of land and the need to feed families brought women closer to the agroecological field, due to the diversity of cultivated species and the few resources available for agricultural modernization. In the municipality of São Paulo, there are 735 Agricultural Production Units and 28% of them are headed by women. The objective of this thesis was to contribute to the construction of knowledge about women farmers and agroecology to contribute to the elaboration and improvement of public policies and socio-environmental initiatives committed to food sovereignty. Through a literature review, we sought to find the links between agroecology and the role of women farmers from a feminist perspective, and to assess whether factors such as the sexual division of labor, especially responsibility for feeding the family and participation in networks and/or or markets sensitive to diversification influence the existing agrobiodiversity in agriculture carried out by a group of women in the municipality of São Paulo. We also sought to analyze the role of networks and public policies in consolidating agroecological management techniques, as well as in making the work of women farmers visible. In order to discuss the theoretical framework and the reach of networks and public policies, a qualitative study was carried out, using ethnography as a methodology, which was developed from the participation in face-to-face and online meetings of the Rede das Agricultoras Periféricas Paulistanas Agroecológicas (RAPPA) and by the realization of semistructured interviews with 12 women involved with agroecology and food in the outskirts of São Paulo. The results indicate that women's responsibility for reproductive work, as pointed out in the literature, is one of the factors that influence the biodiverse production of women farmers. However, it is important to highlight that there are also other motivations, such as income generation, the search for autonomy, the recovery of ancestral knowledge and the recognition of their practices as work. The analyzes also suggest that, although there are public policies related to agroecology in the municipality, few women access them, which reduces their access to land, credit, technical assistance, and markets. Thus, it suggests the need for some changes in the way public policies for agriculture and for women have been structured and implemented in the municipality.