A estância hidromineral de Poços de Caldas está situada geologicamente numa região de origem vulcânica, justificando a existência de suas fontes termais, com propriedades alcalinas, sulfurosas e medicinais, localizadas num complexo sistema hidrogeológico de natureza fraturada, constituída durante a conformação da estrutura vulcânica do planalto caldense. Com a dinâmica do crescimento e expansão urbana a paisagem é marcada por ocupações em regiões ambientalmente sensíveis, cuja produtividade hídrica abastece o município e as fontes termais em uso. Essa forma de ocupação compromete a preservação dos aquíferos termais e os rios urbanos, evidenciando fratura socio histórica, cultural e ambiental, pois o sítio das fontes de águas quentes que originou o território e sua paisagem é reconhecido como patrimônio cultural e natural, não obstante, apresenta-se como imagem criada, subjugada ao valor mercadológico, à prática do turismo, e á valorização de terras e imóveis adjacentes aos bens patrimoniais, sobrepondo o valor social da propriedade urbana em detrimento do seu valor de mercadoria. A leitura dessa paisagem busca articular as dimensões dos aspectos físicos/simbólicos desse lugar a partir da contextualização da formação da sociedade das águas, para o entendimento dos processos sociais no transcorrer do tempo histórico, no sentido de explorar novos valores socioambientais onde a natureza é compreendida como questão cultural, propiciando caminhos que viabilizem políticas urbanas e gestão territorial que priorizem a dimensão ambiental e sua paisagem. Numa abordagem ensaística, o teórico metodológica está fundamentada na concepção de paisagem como processo e construção, respaldada pelo Sistema Complexo de Edgar Morrin, e sua lógica transdisciplinar, na qual o entre lugar do conhecimento emerge como espaço de intersecção entre objeto/fenômeno nas diversas dimensões da realidade. A paisagem parece também ocupar o espaço entre: o entre lugar do processo e construção de paisagem, o que se vê e o que se anuncia entre o objeto/sujeito, que se constitui o fenômeno. Nessa abordagem, considera-se que as práticas sociais no território caldense e sua paisagem estão fundamentadas numa organização hierárquica desde a sua conformação, onde as relações de poder e seu processo hegemônico transparecem na atualidade segundo a lógica da cidade mercadoria, negligenciando os elementos naturais, sobretudo as fontes termais e as águas urbanas, resultando-se no princípio que orienta o planejamento e as políticas urbanas.

The hydromineral resort of Poços de Caldas is geologically located in a region of volcanic origin, justifying the existence of its thermal springs, with alkaline, sulfurous and medicinal properties, located in a complex hydrogeological system of fractured nature, created during the formation of the volcanic structure of the Caldense plateau. With the dynamics of urban growth and expansion, the landscape is marked by occupations in environmentally sensitive regions, whose water productivity supplies the municipality and the hot springs in use. This form of occupation compromises the preservation of thermal aquifers and urban rivers, highlighting socio-historical, cultural and environmental fracture, as the hot water springs site that gave rise to the territory and its landscape is recognized as cultural and natural heritage, nevertheless, It presents itself as a created image, subjugated to market value, the practice of tourism, and the appreciation of land and properties adjacent to heritage assets, overriding the social value of urban property to the detriment of its commodity value. Reading this landscape seeks to articulate the dimensions of the physical/symbolic aspects of this place from the contextualization of the formation of the water society, to understand social processes over the course of historical time, in order to explore new socio-environmental values where nature is understood as a cultural issue, providing paths that enable urban policies and territorial management that prioritize the environmental dimension and its landscape. In an essayistic approach, the methodological theorist is based on the conception of landscape as a process and construction, supported by Edgar Morrin's Complex System, and its transdisciplinary logic, in which the between-place of knowledge emerges as a space of intersection between object/phenomenon in different dimensions of reality.The landscape also seems to occupy the space between: between the place of the process and the construction of landscape, what is seen and what is announced between the object/subject, which constitutes the phenomenon. In this approach, it is considered that social practices in the territory and its landscape are based on a hierarchical organization since its formation, where power relations and their hegemonic process appear today according to the logic of the commodity city, neglecting natural elements, especially hot springs and urban waters, resulting in the principle that guides urban planning and policies.