Após as intensas manifestações políticas que eclodiram em escala global na última década, sobretudo a partir das Jornadas de Junho (2013) no caso brasileiro, observou-se que a agitação do período teria estimulado a presença acentuada dos jovens, em grande parte grupos ligados à produção cultural, em praças, parques e ruas da cidade de São Paulo. Em intensidade sem precedentes, formas difusas de ocupação urbana emergiram, enquanto posições de modos alternativos de 'fazer a cidade' sob novas circunstâncias, como se estivesse em pauta uma outra dinâmica política e social em constituição. Discursos carregados de intensa retórica de consciência política foram combinados às atividades e manifestações de insólito caráter cultural e de lazer, imbricando práticas culturais e ativismo urbano. Nesse sentido, o presente trabalho analisa as apropriações do Elevado Presidente João Goulart |Minhocão|, isto é, os usos pouco habituais experimentados na via elevada, com ênfase na última década, desde o 2º Prêmio Prestes Maia de Urbanismo (2006), até as disputas e negociações recentes quanto ao seu destino. À luz da discussão urbanística contemporânea, sinaliza-se estar em andamento a construção aprimorada de pactos, muito mais alinhados ao poder político e econômico, do que sugerem as imagens e discursos de contravenção à sua urbanidade original. Em que pese a entrada em cena de novos agentes urbanos, grupos de jovens, ativistas, produtores culturais, a tese do trabalho é a de que houve, nas experiências atuais, uma espécie de encolhimento crítico e de neutralização da dimensão transgressora e insurgente do ativismo em prol de uma funcionalização das reivindicações, sempre em nome de um bem público maior, possibilitada por intervenções de ação direta, propostas paradoxalmente como condutas alternativas para a criação de 'espaços públicos".

After the intense political protests that have erupted on a global scale in the last decade, especially since the Jornadas de Junho (2013) in Brazil, it was observed that the upheaval of the period would have stimulated the accentuated presence of groups of young people in São Paulo' public areas, such as squares, parks and streets. An unprecedented intensity of urban occupations emerged like propositions of alternative ways of 'city-making', as if another agenda of political and social dynamics for the production of urban space were finally in constitution. Discourses full of an intense rhetoric of political conscience were combined with actions and activities characterized by unusual aspects of culture and leisure, overlapping cultural practices and urban activism. In this sense, the present work analyzes the urban appropriations of the Elevado Presidente João Goulart | Minhocão |, its uncommon uses experienced on the highway in the last decade, since the 2nd Prestes Maia Urbanism Award until the recent disputes and negotiations towards its future. In light of the contemporary urbanism debate, it seems to be under construction pacts aligned with political and economic power rather than transgressions of its original urbanity suggested by its images and discourses. And in spite of the new urban agents - groups, activists and cultural producers -, the thesis presented here is that there has been an extenuation of critique and a dissolution of the transgressive and insurgent dimension in current activism experiences, in favor of a functionalization of the claims, always in the name of a larger public good, made possible by interventions of direct action, paradoxaical proposes of alternative conducts for the creation of 'public spaces'.