O diabetes mellitus (DM) compreende um conjunto de transtornos metabólicos caracterizados por hiperglicemia resultante de alterações na secreção de insulina, ação da insulina ou ambos. Em cães, o DM ocorre geralmente devido à destruição das células beta-pancreáticas por alterações imunomediadas, degeneração vacuolar ou pancreatite. Por isso, o manejo dietético, assim como a insulinoterapia, são fundamentais para diminuir as consequências relacionadas às alterações metabólicas resultantes da doença, logo a utilização dos beta-glucanos como prebióticos hipogliceminantes e hipolipemiantes, já relatado em estudos prévios, podem ser uma terapia adjuvante importante para o tratamento de cães diabéticos. O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos da suplementação de 15mg/kg de peso corporal de beta-glucanos (BG) extraídos de leveduras em variáveis glicêmicas e lipidêmicas de cães diagnosticados com DM. Foram incluídos 14 cães que atenderam os critérios de inclusão: animais diabéticos, fêmeas castradas ou machos, de faixas etárias variadas, sem outras afecções concomitantes, com escore de condição corporal (ECC) entre 4 e 6, segundo escala de 9 pontos descrita por Laflamme (1997). O estudo é um ensaio clínico prospectivo, longitudinal, randomizado, com delineamento inteiramente casualizado duplo-cego. Os animais avaliados passaram por três fases. A Fase 0 compreendeu o período de estabilização da glicemia e controle dos sinais clínicos da doença. Nesse intervalo foi padronizada a dieta, bem como ajustada a dose de insulina e a frequência de administração para todos os cães. Fases 1 e 2: foram realizadas avaliações baseadas em medidas repetidas no tempo no dia 56 e 140, o grupo em tratamento (n=8) recebeu suplementação de 0,1% de MacroGard ® encapsulado [15mg/kg de peso corporal (Beta-1,3/1,6 - glucanos de levedura)], enquanto o grupo controle (n=6) não recebeu suplementação com BG, mas foram fornecidas cápsulas com alimento coadjuvante para cães diabéticos moído (o mesmo empregado durante todo o estudo, para ambos os grupos). Nos 15 dias precedentes ao final das fases 1 e 2 foram fixados os sensores de mensuração contínua da glicemia (SMCG) FreeStyle Libre e, após este período, os animais retornaram para realizar as curvas glicêmicas com coletas a cada 2 horas, totalizando 6 coletas (método convencional). Foram utilizadas duas metodologias de mensuração da glicemia nos 14 cães avaliados após cada fase (Fases 1 e 2). As glicemias foram determinadas por meio de SMCG e também por curva glicêmica convencional no final de cada fase, já a concentração sérica de triglicérides e colesterol foi avaliada pelo método glicerol fosfato oxidase/peroxidase. Para análise dos resultados do SMCG foi estabelecido o período de 72 horas, após o primeiro dia da fixação do sensor, ou seja, 2 º, 3 º e 4 º dias para igualar o mesmo período de avaliação nos 14 cães diabéticos. Nos resultados obtidos, inicialmente foi verificada a normalidade dos dados pelo teste de SHAPIRO- WILK e a homogeneidade das variâncias comparadas pelo teste de Levine. Após verificação das premissas estatísticas, foi realizada análise de variância com medidas repetidas no tempo pelo PROC MIXED (SAS). Valores de p <0,05 foram considerados significativos. Com base nos resultados das curvas glicêmicas aferidas pelo SMCG, foi possível observar que os animais suplementados com BG apresentaram menores valores de glicose máxima quando comparados aos do grupo placebo (p=0,02). Além disso, foi possível observar interação de tempo e tratamento no grupo placebo em relação aos valores de glicemias médias (p=0,007). Os resultados das glicemias médias obtidas por meio das curvas convencionais realizadas após os animais terem recebido os dois tratamentos do estudo não apresentaram diferenças. Em relação às variáveis lipídicas, foram observadas menores concentrações de triglicérides basais (p=0,0058) e menores trigliceridemia média (p=0,0204) e máxima (p=0,0248) no grupo tratado com BG. De acordo com o delineamento e metodologias empregados no presente estudo, pode-se concluir que a suplementação de BG na dose de 15mg/kg de peso corporal apresentou poucos efeitos na glicemia e colesterolemia, mas pode ser uma estratégia eficiente para o controle da trigliceridemia de cães diabéticos.

Diabetes mellitus (DM) comprises a set of metabolic disorders characterized by hyperglycemia resulting from changes in insulin secretion, insulin action, or both. In dogs, DM usually occurs due to the destruction of pancreatic beta cells by immune- mediated changes, vacuolar degeneration, or pancreatitis. Therefore, dietary management, as well as insulin therapy, are essential to reduce the consequences related to metabolic changes resulting from the disease, so the use of beta-glucans as hypoglycemic and hypolipidemic prebiotics, already reported in previous studies, can be an adjuvant therapy important for the treatment of diabetic dogs. The aim of this study was to evaluate the effects of supplementation with 15mg/kg of body weight of beta-glucans (BG) extracted from yeast on glycemic and lipidemic variables in dogs diagnosed with DM. Fourteen dogs that met the inclusion criteria were included: diabetic animals, castrated females or males, of different age groups, without other concomitant conditions, with a body condition score (ECC) between 4 and 6, according to a 9-point scale described by Laflamme (1997). The study is a prospective, longitudinal, randomized clinical trial with a completely randomized double-blind design. The evaluated animals went through three phases. Phase 0 comprised the period of glycemic stabilization and control of clinical signs of the disease. During this interval, the diet was standardized, as well as the insulin dose and frequency of administration for all dogs. Phases 1 and 2: evaluations were performed based on repeated measurements over time on days 56 and 140, the treatment group (n=8) received 0.1% MacroGard ® encapsulated supplementation [15mg/kg of body weight (Beta- 1.3/1.6 - yeast glucans)], while the control group (n=6) did not receive supplementation with BG, but capsules with ground coadjuvant food for diabetic dogs were provided (the same used throughout the study, to both groups). In the 15 days preceding the end of phases 1 and 2, the sensors for continuous measurement of blood glucose (SMCG) FreeStyle Libre were fixed and, after this period, the animals returned to perform the glycemic curves with collections every 2 hours, totaling 6 collections (conventional method). Two methods of measuring blood glucose were used in the 14 dogs evaluated after each phase (Phases 1 and 2). Glycemias were determined using SMCG and also using a conventional glycemic curve at the end of each phase, whereas serum concentrations of triglycerides and cholesterol were assessed using the glycerol phosphate oxidase/peroxidase method. For analysis of the SMCG results, a period of 72 hours was established after the first day of sensor fixation, that is, 2nd, 3rd and 4th days to equal the same evaluation period in the 14 diabetic dogs. In the results obtained, the normality of the data was initially verified by the SHAPIRO-WILK test, and the homogeneity of the variances was compared by the Levine test. After verifying the statistical assumptions, analysis of variance was performed with measures repeated over time by PROC MIXED (SAS). P values <0.05 were considered significant. Based on the results of the glycemic curves measured by the SMCG, it was possible to observe that the animals supplemented with BG had lower maximum glucose values when compared to the placebo group (p=0.020). In addition, it was possible to observe interaction between time and treatment in the placebo group in relation to mean blood glucose levels (p=0.007). The results of the average glycemias obtained through the conventional curves performed after the animals had received the two treatments of the study did not show differences. With regard to lipid variables, lower concentrations of basal triglycerides (p=0.0058) and mean (p=0.0204) and maximum (p=0.0248) triglyceridemia were observed in the group treated with BG. According to the design and methodologies employed in the present study, it can be concluded that BG supplementation at a dose of 15mg/kg of body weight had little effect on glycemia and cholesterolemia, but it can be an efficient strategy for controlling triglyceridemia in diabetic dogs.