A transmissão da raiva de gatos para humanos pode ser evitada pela vacinação desses animais. Sendo assim, a ocorrência de casos humanos decorrentes da transmissão felina reflete cobertura vacinal insuficiente. Para determinar a cobertura vacinal mínima a ser alcançada, é necessário calcular a cobertura vacinal, o que requer estimativas precisas da população exposta. No Brasil, não existem relatos da precisão das estimativas do tamanho da população felina do país e, tampouco sobre a cobertura vacinal contra a raiva. No presente estudo utilizaram-se dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 (PNS), compreendendo 64.348 domicílios, para calcular as estimativas pontuais e os intervalos de confiança do total de gatos, densidade domiciliar e cobertura vacinal contra raiva dos domicílios com gatos nas unidades federativas brasileiras. A população estimada foi de 22.070.633 (95% CI = 21.252.615 - 22.888.651) e a cobertura de vacinação em gatos foi de 65,63% (IC 95% = 63,85 - 67,41). Ambas as estimativas foram calculadas para estratos rurais e urbanos e tiveram variação entre as unidades federativas. A estimativa da cobertura domiciliar da raiva para o país foi inferior a 70% e em 92,5% das unidades federativas a estimativa pontual da cobertura foi inferior a 70%. Isto correspondeu a 79% da população humana vivendo em áreas com cobertura inferior a 70%. A extrapolação da razão humano/gato e da média de gatos por domicílio gerou erros relativos na estimativa da população felina de até 410%. Embora as estimativas da cobertura vacinal calculadas a partir do desenho amostral tenham sido precisas no nível nacional (erro inferior a 2 pontos percentuais), no nível estadual a média dos erros foi de 140% e chegou a 410%. Uma situação semelhante aconteceu com outros parâmetros estimados. A consideração dos gatos na PNS permitiu uma caracterização populacional de abrangência sem precedentes, para auxiliar o manejo da população e da saúde dos gatos domiciliados. No entanto, a caracterização das populações de gatos domiciliadas possui limitações adicionais em comparação com os cães: são necessárias metodologias de estimação alternativas para atingir precisões equivalentes às observadas em cães, bem como valores de referência da cobertura vacinal mínima efetiva para interpretar as estimativas da cobertura vacinal.

The transmission of rabies from cats to humans can be prevented by vaccinating these animals in such a way that the occurrence of human cases resulting from feline transmission reflects insufficient vaccination coverage. To determine the minimum vaccination coverage to be achieved, it is necessary to calculate vaccination coverage, which requires accurate estimates of the exposed population. In Brazil, there are no reports of the accuracy of estimates of the size of the country's feline population and vaccination coverage against rabies. In the present study, data from the 2013 National Health Survey (PNS), comprising 64,348 households, were used to calculate point estimates and confidence intervals for the total number of cats, household density and rabies vaccination coverage of the owned-cat population in Brazilian federative units. The estimated owned-cat population was 22,070,633 (95% CI = 21,252,615 - 22,888,651) and vaccination coverage in cats was 65.63% (95% CI = 63.85 - 67.41). Both estimates were calculated for rural and urban strata and varied between federative units. The country estimate of household rabies coverage was less than 70% and in 92,5% of federative units the point estimate of coverage was less than 70%. Seventy-nine percent of the human population lived in areas with cat vaccination coverages below 70%. The extrapolation of the human / cat ratio and the average of cats per household generated relative errors in the estimation of the feline population of up to 410%. Although the vaccine coverage estimates calculated from the sample design were accurate at the national level (error less than 2 percentage points), at the federal level the average error was 140% and reached 410%. A similar situation occurred with other estimated parameters. The consideration of cats in the PNS allowed a population characterization of unprecedented scope, to assist the management of the population and the health of domiciled cats. However, the characterization of domiciled cat populations has additional limitations in comparison to dogs: alternative estimation methodologies are needed to achieve precision equivalent to those observed in dogs, as well as reference values of the minimum effective vaccine coverage to interpret coverage estimates vaccination.