Os textos aqui selecionados tratam de relações entre cidade, cultura e arte urbana contemporâneas, e foram elaborados após o ano 2000. Neles inscrevem-se temas, conceitos e princípios importantes do meu percurso intelectual como docente e pesquisadora na FAUUSP, os quais têm sido trabalhados em disciplinas, pesquisas, seminários, grupos de estudos, orientações, mesas redondas, palestras e atividades afins. Essa escolha organiza-se em torno de três núcleos de questões interligadas e que se alimentam mutuamente: o primeiro diz respeito à relação entre o estético e o político; o segundo, à relação entre cidade, arquitetura, espaço público e cultura urbana; e o terceiro, à arte urbana. Com esta montagem pretendo facilitar a apreensão da minha perspectiva compreensiva nesse campo, de modo a circunscrever alguns dos principais aspectos de uma posição teórica e um modo de olhar para esses fenômenos, mais do que uma análise pormenorizada de conceitos.O eixo tético que articula esses núcleos trata da relação entre criação e resistência. No interior desse eixo assenta-se a questão da emancipação, considerada não como o fim último de um projeto político, nem como um estado social de liberação. A acepção que mobilizo de emancipação associa-se à filosofia de Jacques Rancière e significa a verificação polêmica da igualdade, que leva a atos intermitentes de resistência, efetuados diante da lógica da desigualdade inerente ao vínculo social. Esta verificação é precária, descontínua e consiste na introdução de algo que é, ao mesmo tempo, próprio e impróprio a desafiar a ordem estabelecida, caracterizando o dissenso, motor da política. Nessa consideração dos fenômenos urbanos, culturais e artísticos interessa-me não apenas os atos de resistência em si mesmos, que são de enorme importância, mas também sua associação à dimensão da criação, isto é, o que mobilizam enquanto respostas, propostas ou intervenções às situações em pauta.

This collection of texts deals with contemporary relations between city, culture and art, organized around three interlinked nuclei: the first concerns the relationship between the aesthetic and the political; the second, the relation between city, architecture, public space and urban culture; and the third, to urban art (public art). The transversal axis articulating these nuclei is based on the philosophy of Jacques Rancière. Within this axis lies the question of emancipation, considered as the controversial verification of equality, which leads to intermittent acts of resistance, carried out in the face of the logic of inequality inherent in the social bond. This kind of verification is precarious, discontinuous, and consists in the introduction of something that is at the same time proper and improper to challenge the established order.