A Amazônia é o maior bioma brasileiro, que forma o maior complexo natural da América Latina e que tem como características os rios, as florestas e a planície. Os recursos da biodiversidade representam oportunidades para o setor produtivo na geração de diversos produtos e serviços em setores estratégicos, como cosméticos, químicos e fármacos. A partir da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) o termo biodiversidade se popularizou e propagou-se a utilização sustentável da diversidade biológica. Assim, nas últimas décadas, os produtos da biodiversidade têm sido amplamente valorizados, estimulando as organizações à busca de parcerias para o desenvolvimento de projetos e produtos. Evidências estimam que em torno de 90% da biodiversidade de todo o mundo tenha sido desenvolvida e conservada nos territórios habitados por comunidades tradicionais. No Brasil não é diferente, grande parte da biodiversidade da Amazônia é conservada por comunidades tradicionais. As comunidades tradicionais são portadoras de culturas únicas, que tendem a se ocupar com a gestão sustentável dos recursos naturais, sobre os quais foi construído seu Patrimônio Biocultural Imaterial (PBI). Elas se dedicam ao biocomércio, um modelo de negócio que promove o comércio sustentável e responsável da biodiversidade, com o objetivo de harmonizar o desenvolvimento econômico com a conservação da biodiversidade. Assim sendo, o presente trabalho se propôs a investigar se o comércio da biodiversidade na Amazônia, na percepção dos Povos e Comunidades Tradicionais, se configura como biocomércio promovendo o desenvolvimento sustentável. A pesquisa se realizou por meio do estudo de quatro comunidades tradicionais localizadas no Estado do Pará que possuem contratos de fornecimento de produtos da biodiversidade. Como escolha metodológica, o trabalho utilizou a abordagem quantitativa, por meio de survey e, em seguida, a abordagem qualitativa, por meio da observação in loco, da pesquisa documental e de entrevistas. A coleta de dados envolveu a aplicação do formulário nas quatro comunidades: APOBV, APROCAMP, CAMTA e COFRUTA totalizando 178 respondentes. No mesmo período foram realizadas as visitas técnicas, a pesquisa documental e as entrevistas. A análise quantitativa compreendeu a descrição dos locais de aplicação, análise da percepção dos produtores nas dimensões social, financeira e ambiental, comparações entre as comunidades e análise do perfil. A análise qualitativa se baseou nos resultados das visitas, na descrição dos documentos consultados e na análise das entrevistas, utilizando como técnica a Análise de Discurso de Matriz Francesa. Os resultados indicam que o biocomércio promove a sustentabilidade das comunidades pesquisadas na percepção dos moradores. Os impactos sociais citados foram, aquisição de bens e reforma das casas, melhora da qualidade de vida, empregos para as famílias e divulgação da comunidade. Os impactos ambientais compreendem a certificação, a valorização de espécies nativas e ações para prevenir a caça e a pesca. A posição das comunidades na cadeia produtiva é de fornecedora de matéria-prima, determinada por contrato formal e reforçada pela posição ideológica que a empresa focal ocupa do ponto de vista dos líderes. A remuneração pelo trabalho, o preço pago pelos produtos e a preocupação com o meio ambiente é mais bem avaliada pelas associações. As cooperativas incentivam a diversificação da produção e tentam equilibrar a oferta de produtos

The Amazon is the largest Brazilian biome, which form the largest natural complex of Latin America and which has as characteristics the rivers, the forest and the plains. Biodiversity resources represent opportunities for the productive sector to generate various products and services in strategic sectors such as cosmetics, chemicals, pharmaceuticals, herbal medicines, food, handcrafted jewelry, biofuels, community-based tourism, among others. From the Convention on Biological Diversity (CBD) the term biodiversity has become popular and the sustainable use of biological diversity has spread. Therefore, in recent decades, biodiversity products have been widely valued, encouraging companies the search for partnerships to development projects and products. Evidence estimates that around 90 % of the world's biodiversity has been developed and conserved in territories inhabited by traditional communities. In Brazil, is no different, much of the biodiversity of Amazon is conserved by traditional communities. Traditional communities have unique cultures that tend to engage in the sustainable management of natural resources on which their Intangible Biocultural Heritage (IBH) was built. They are dedicated to biotrade, a business model that promotes sustainable and responsible trade in biodiversity, with the aim of harmonizing economic development with biodiversity conservation. Thus, the present work aimed to investigate whether biodiversity trade in the Amazon, in the perception of traditional peoples and communities, is configured as a biotrade promoting sustainable development. The research was made through the study of four traditional communities located in the State of Pará that have contracts for the supply of biodiversity products. As a methodological choice, the work used the quantitative approach, through survey and, then, qualitative approach, through onsite observation, documentary research, and interviews. Data collection involved the application of the questionnaire in four communities: APOBV, APROCAMP, CAMTA and COFRUTA totaling 178 respondents. In the same period, technical visits, documentary research, and interviews were carried out. The quantitative analysis included the description of the application sites, analysis of the producers' perception in the social, financial and environmental dimensions, comparisons between communities, and profile analysis. The qualitative analysis was based on the results of the visits, description of the consulted documents, and analysis of the interviews, using as technique the French Matrix Speech Analysis. The results indicate that biotrade promotes the sustainability of the researched communities in the perception of the residents. The social impacts mentioned were, acquisition of goods and house renovations, improved quality of life, jobs for families and community disclosure. The environmental impacts comprise the certification, the appreciation of native species and actions to prevent hunting and fishing. The position of communities in the Biodiversity Production Chain (BPC) is as a supplier of raw materials, determined by formal contract and reinforced by the ideological position that the focal company occupies from the community leaders' point of view. The remuneration for the work, the price paid for the products, and the concern for the environment is better evaluated by the companies. Cooperatives stand out for encouraging production diversification and work to balance supply and demand for products