O presente trabalho visa investigar em que medida a Física, reconhecida por seu caráter paradigmático e, portanto, com leis bem definidas, está sujeita aos elementos culturais da escola. Dessa forma, pretendeu-se investigar a existência (ou não) de um conhecimento físico "naturalizado" e universal, para além das características de diferentes culturas nacionais. Dentro de um quadro teórico que reconhece a articulação entre os vários aspectos da complexa realidade escolar, as referências de investigação contemplaram, também, âmbitos mais gerais nos quais a disciplina escolar está inserida. Esses âmbitos foram representados pelas políticas educacionais, pelos currículos, pelas propostas pedagógicas da escola, pelo perfil da comunidade escolar e pelos materiais didáticos. Para isso, optou-se por um estudo de caso de uma escola bicultural brasileira e espanhola, e elaboraram-se três procedimentos de investigação: o primeiro, documental, teve foco na análise dos objetivos da escola em conjunto com as legislações brasileira e espanhola. O segundo, com foco nas relações da cultura escolar, centrado nos protagonistas (alunos e professora), com vivência em contextos escolares de países diferentes. Por último, o terceiro, com foco na análise da abordagem do conhecimento escolar de Física, através de sua organização curricular e dos materiais didáticos utilizados, representados por livros brasileiros e espanhóis. Do conjunto dos resultados obtidos, foi possível verificar que a Física, como disciplina escolar, está sujeita aos elementos culturais da escola, permitindo-se identificar aspectos que contribuem para sua "desnaturalização". Mais do que isso, foi possível reconhecer na escola estudada o surgimento de uma cultura híbrida, através de um processo não livre de tensões e movido, aparentemente, por objetivos educacionais distintos. De acordo com o estudo realizado, o produto híbrido desse processo parece ser constituído por uma cultura escolar que integra elementos complementares, sem predomínio de um ou de outro contexto cultural, e com potencial, aparentemente, para promover uma formação mais rica, devido a maior diversificação.

The goal of this research is to investigate possible national cultural elements in the introduction of Physics knowledge in high schools. This means to inquire in which extent a paradigmal science as this one, with universal laws, is presented through equivalent approaches in different cultural contexts. As school subjects are integrated in complex structures, we take into consideration theoretical references about curriculum policies, cultural schooling, and school textbooks discussions. With this purpose we developed a case study about a bicultural school, in São Paulo, attending Spanish and Brazilian students. This study was developed in three different instances: the first, with focus in documental elements extracted from school project and curriculum strategies; the second, with particular attention to student perceptions of their cultural experiences; and the third, based on the analysis of material, practices and physics textbooks used in classroom. Our results indicate that there are, in fact, significant cultural contributions in this subject, and this do not allow a "naturalization" of school physics content. Moreover, it was possible to identify this particular school as a hybrid cultural construction, not free of tensions and contradictions, but integrating different and complementary contributions, with potential to promote a richer scientific education.