A presente dissertação visa realizar uma leitura de Nove Noites (2002), de Bernardo Carvalho, a partir da noção de desamparo [Hilflosigkeit], tal como desenvolvida na psicanálise por Sigmund Freud, dessa maneira, a análise ressaltará também as consonâncias entre literatura e psicanálise. Com tal escopo, o caminho analítico se desdobrará nas duas faces que assume o desamparo no romance: individual, caso do segundo narrador, e coletiva, no que toca às tribos indígenas presentes na obra. Nesta última, o trabalho enveredará por uma rápida exposição da história dos povos ameríndios no século XX, ressaltando aqueles momentos pertinentes à análise (investigando, por exemplo, o papel de uma personagem histórica como Rondon, bisavô do narrador). No que tange ao segundo narrador, a leitura percorre a convivência com seu pai na infância e na maturidade, ressaltando como a procura por Quain revela algo de seu confronto com o desamparo. O aspecto psicanalítico mostra-se, dessa forma, transversal na narrativa, expondo o afeto predominante de um momento histórico (o romance mencionará os ataques terroristas que acentuam as incertezas de uma época), internalizado na forma romanesca.

This dissertation aims to analyse Bernardo Carvalhos Nove Noites [Nine Nights] (2002), based on the idea of helplessness [Hilflosigkeit], as developed in psychoanalysis by Sigmund Freud, thus also highlighting the consonance between literature and psychoanalysis. Within that scope, the analytical path will develop over the two forms in which helplessness is presented in the novel: individual, as is the case of the second narrator, and collective, relative to the indigenous tribes that are featured in the novel. The second analytical path will include a brief exposition of the history of Amerindian tribes in the 20th century, with special attention to those moments that are pertinent to this study (investigating, for example, the role of a historical character such as Rondon, the narrators great-grandfather). Regarding the second narrator, the analysis will cover his relationship with his father in childhood and adulthood, highlighting how the search for Quain reveals something of his confrontation with helplessness. The psychoanalytical aspect reveals itself to therefore transverse the narrative, exposing the predominant emotion of a historical moment (the novel will mention the terrorist attacks that accentuate the uncertainties of a period), internalized in the form of the novel.