Esta tese investiga a recepção, entre 1982 e 2002, da obra de Edward Palmer Thompson (1924-1993) na produção discente do Programa de Pós-Graduação em História da Unicamp (PPGHU), instituição que se destacou, no período, pela elevada frequência, em teses e dissertações, de referências a textos thompsonianos e pelo envolvimento de discentes/docentes na produção de edições brasileiras de escritos do historiador inglês. Apontada, desde os anos 1980, como uma das principais influências na historiografia brasileira, a obra de E. P. Thompson tem recebido, mais recentemente, estudos sistemáticos sobre sua recepção no Brasil. Nesta pesquisa, apoiando-nos em considerações teórico-metodológicas de, especialmente, Roger Chartier (leitura e apropriação) e de Michel de Certeau (operação historiográfica) e em variada documentação (dissertações e teses, entrevistas, artigos e resenhas, balanços bibliográficos e documentos institucionais diversos do PPGHU), exploramos relações do mencionado processo de recepção com as transformações pelas quais passavam as instituições universitárias de produção historiográfica nacionais (salientando aspectos específicos da dinâmica institucional do PPGHU) e com as conjunturas sócio-político-culturais brasileiras do período (enfatizando seus impactos sobre importantes concepções vigentes entre os historiadores). Investigamos, também, a circulação, no Brasil, das edições (nacionais e estrangeiras) de obras de E. P. Thompson, destacando as variadas formas de participação, em publicações brasileiras de textos do historiador inglês, de docentes e de discentes do PPGHU e, finalmente, analisamos as opções de leitura da obra thompsoniana que os últimos realizaram, as apropriações que empreenderam e os resultados destas nos trabalhos que produziram, sempre considerando como estes dialogaram com debates historiográficos e referências teórico-metodológicas que então hegemonizavam a produção dos (sub)campos disciplinares em que se inseriam. Em nossa pesquisa, fica evidente o caráter criativo/produtor do processo de apropriação empreendido pelo historiadores nacionais aqui enfocados, os quais se mostraram capazes de levar conceitos e noções de E. P. Thompson a terrenos e limites que, dificilmente, ele poderia imaginar.

This thesis investigates the reception, between 1982 and 2002, of the works of Edward Palmer Thompson (1924-1993) in student productions of the Postgraduate Programme in History of the University of Campinas, also known as Unicamp, (PPGHU). The institution stood out during this period for the significant number of references to Thompsonian texts, both in theses and dissertations, and the involvement of students and academics in the production of Brazilian editions of the writings of the English historian. Since the 1980s, E.P. Thompsons work has been indicated as one of the main influences on Brazilian historiography, being the object of recent systematic studies on its reception in the country. Based on theoretical and methodological considerations, especially from Roger Chartier (reading and appropriation) and Michel de Certeau (historiographical operation), and varied documentation (dissertations and theses, interviews, articles and reviews, bibliographic assessments and diverse institutional documents from PPGHU), we explore the relationship between the reception process previously mentioned and the changes experienced by university institutions of national historiographic production (accentuating specific aspects of PPGHU institutional dynamics), while additionally considering the social, political and cultural conjuncture of Brazil in the period (emphasising its impact on important current concepts among historians). We also investigate the circulation of national and foreign editions of E. P. Thompsons works, underlining the different forms of participation, in Brazilian editions, of both academics and students from PPGHU. Finally, we analyse the reading options of the Thompsonian work chosen by the latter, their appropriation, and the results in the work produced, taking into account how students developed a dialogue with historiographic debates and theoretical-methodological references that dominated the disciplinary (sub)fields to which they belonged. It is evident from our research that there are both creative and productive characteristics in the process of appropriation performed by the national historians here analysed, who were capable of bringing E.P. Thompsons concepts to territories he could hardly have imagined.