Nosso objetivo neste trabalho foi estudar a cerâmica de figuras negras tasienses como um documento inserido em contextos arqueológicos, parte dos objetos votivos oferecidos em santuários femininos, com destaque para o Artemísion de Tasos. A pesquisa centrou-se em Tasos, uma ilha situada no norte do Egeu, fundada por gregos de Paros. Concentramo-nos no período arcaico, mais especificamente no século VI a.C., auge das produções locais. A partir dos contextos arqueológicos, aprofundados por meio dos relatórios de escavação, analisamos as relações significativas sociais e religiosas que foram estabelecidas entre materiais votivos associados a esta cerâmica de figuras negras tasienses. Essas relações trouxeram elementos que nos permitiram interpretar o multiculturalismo imbricado aos objetos, o mimetismo e as inovações na decoração destas figuras negras, a demanda em termos quantitativos de um tipo de vaso chamado lêcana, objeto que mostrou-se carregado de informações e significados de culto. Além de características que nos revelaram práticas certamente votivas, desveladas pela sua maneira de exposição, pelos traços decorativos, que até o momento apresentam-se exclusivamente documentadas em Tasos. A pesquisa revelou a relação intrínseca ligada às diversas fases de Ártemis, aos ritos de passagem e à proteção da mulher no parto. Também mostrou que a múltipla Ártemis, protetora da mulher, atua no espaço cívico-religioso em conexão com o oîkos. Por fim, enfatizamos que todos os elementos relacionados acima foram embasados por um escopo teórico (conceito de emaranhamento cultural, recepção e inovação cultural) pertinente para alicerçarmos nossa reflexão acerca do que emergiu da documentação material nos contextos documentados arqueologicamente.

The aim of the present research was to study Thasian black-figured pottery as archaeologically contextualized documents, forming part of the votive objects offered at female sanctuaries, especially the Artemision of Thasos. The research is centered on Thasos, an island situated in the Northern Aegean, settled by Greeks from Paros. We focus on the Archaic Period, more specifically on the sixth century BC, the peak of local production. Departing from the archaeological contexts, illuminated through excavation reports, we analyze significant social and religious connections among votive materials associated with the Thasian black-figured pottery. These connections brought us elements that allowed us to interpret the multiculturalism imbricated within the objects, the mimicry and the innovations in the decoration of this black-figured pottery, as well as the special demand, in quantitative terms, of a type of vessel called lekane, an object that was loaded with information and cultic meanings. In addition, those same elements also showed us traits that reveal votive practices, judging by the way the pottery was exhibited, and its decorative features, which to date are only attested in Thasos. The research revealed intrinsic relationships linked to the diverse facets of Artemis, from a goddess protecting the rites of passage to the protection of women in childbirth. Moreover, it demonstrated that the multiple facets of Artemis, as protectress of women, acts in the civic-religious space in connection with the oíkos. Finally, we emphasize that all the elements referred to above were approached from the theoretical perspective of cultural entanglement, reception and cultural innovation, pertinent in grounding our reflection on what emerges from the material remains associated with the archaeological contexts.