Nas últimas décadas a profissão docente vem atravessando uma grande fase de desprestígio, pois o professor é colocado como responsável pela maioria dos insucessos da aprendizagem. Como se não bastasse para se manter nessa posição o professor necessita de um aprimoramento contínuo que inclui a utilização de teorias modernas, conhecimentos tecnológicos e, além disso, uma permanente ampliação da sua rede de saberes. O que o coloca numa situação angustiante e permanente de queixas dirigidas a todos os envolvidos no processo educativo. Mesmo diante desse quadro que está estabelecido pessoas continuam estudando para serem professores e, as que estão em sala de aula também não abandonam a profissão, o que nos faz perguntar O que sustenta o professor na docência? Para responder essa questão entramos em contato com as Histórias de Vida e entrevistas de professores que cursavam uma disciplina de pós-graduação. Analisamos as Histórias de Vida utilizando o conceito de ethos modificado por Maingueneau (2005) e relacionado à Análise do Discurso e a partir do ethos discursivo obtido, organizamos as situações marcantes em termos de demandas subjetivas feitas pelo professor. Essas demandas olhadas por um novo referencial, o psicanalítico, foram caracterizadas em: dívida simbólica, reedição parental, demanda de amor e gozo. A estrutura explicativa obtida nos sugeriu uma analogia com o modelo dos Programas de Pesquisas de Lakatos (1979), pois em nossa interpretação, as condições que caracterizam o progresso ou abandono de um paradigma têm a mesma estrutura das que se referem ao progresso ou abandono da carreira docente. Inferimos finalmente que o professor se mantém na docência porque esse lugar ainda propicia condições para que ele possa atualizar e dar atendimento as suas demandas mais subjetivas. Na nossa interpretação, condições institucionais que ajudem na proteção dessas demandas primordiais também podem se constituir como fator vital para a permanência na docência.

In the last few decades, the teaching profession has lacked prestige, as society blames teachers for most learning failures. Additionally, teachers must improve continuously in order to maintain their jobs it is demanded of them that they be able to use modern theories and technological knowledge, as well as that they permanently widen their knowledge network. This puts them in a distressing position, and one in which complaints are directed towards all involved in the educational process. Even facing this scenario, however, people continue to study to be teachers, and the ones currently teaching do not abandon their profession. This makes one wonder: What keeps a teacher in the teaching profession? In order to answer this question, we interviewed teachers enrolled in a postgraduate course and got acquainted with their Life Stories. We analyzed these Life Stories using the concept of ethos as modified by Maingueneau and related it to Discourse Analysis. Using the resulting discursive ethos as a starting point, we organized the noteworthy situations according to the teachers subjective demands. These demands were then analyzed from the psychoanalytical frame of reference and characterized as: symbolic debt, new edition of parental relationships, demand for love and jouissance. The explicative structure obtained suggested an analogy with the Lakatos Research Programs, since, in our interpretation, the conditions that characterize the progress or the abandonment of a paradigm have the same structure of those which refer to the progress or abandonment of the teaching career. Finally, we inferred that teachers keep teaching because this post still provides conditions for him or her to update and fulfill his or her most subjective demands. In our interpretation, institutional conditions which help protect these primordial demands may also constitute vital factors for the permanence of teachers in the teaching profession.