Um ensino de ciências voltado para a cidadania demanda práticas de sala de aula que promovam o desenvolvimento de competências, como a argumentação, condição de emancipação. A escola contribuirá para o desenvolvimento de jovens com capacidade de avaliação crítica, ao permitir-lhes tomar posição de forma democrática, responsável e, quando for o caso, cientificamente sustentada. Uma convicção que funda a presente dissertação é a idéia de que as práticas de trabalho colaborativo, envolvendo a interação entre os alunos através do diálogo em sala de aula contribuirão para o desenvolvimento dessas competências. Uma apreciação crítica da educação, vivida numa trajetória pessoal de professor em um curso pré-universitário, deu origem a um questionamento pessoal que encontrou eco em distintos referenciais teóricos. Alguns desses referenciais já são históricos, como os de John Dewey e Anísio Teixeira, que conceituaram uma visão de educação democrática, outros mais recentes, como o da educação dialógica e participativa de Paulo Freire ou da educação para o desenvolvimento de competências, como a proposta por Philippe Perrenoud. Essa visão múltipla, que poderia ser caracterizada como ecumênica, qualifica um cenário escolar desejável para a formação cientifica emancipadora. Tendo esse cenário como perspectiva, mostra-se então como o aprendizado da Física pode ser conduzido no ensino médio, de forma participativa e dialógica em ambiente democrático, e sem prejuízo da igualmente desejável formação conceitual e prática nos conteúdos científicos e tecnológicos.Parte significativa desse trabalho foi conduzida em aulas de Física do primeiro ano do ensino médio em uma cooperativa educacional, procurando, através de implementação de práticas pedagógicas orientadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, PCN, compreender a realidade complexa e dinâmica das interações sociais em sala de aula. Os dados foram tomados na forma de registros em um diário de observações, inclusive de interações entre alunos, assim como da análise de trabalhos desenvolvidos por eles, na forma de textos escritos. Uma análise qualitativa permitiu avaliar tais competências, vendo que, numa fase inicial, a capacidade de argumentação estava pouco desenvolvida; que as interações em sala de aula contribuíram para seu desenvolvimento; e que níveis inicialmente muito diversificados foram melhorando e se aproximando gradativamente em função dessas atividades de discussão.

When science teaching is seen as preparation for citizenship it is essential to promote classroom practices able to develop competences, as the one to face arguments, a condition to personal emancipation. School will contribute to the development of young people, capable of critical evaluations by means of the analysis of different points of view, when it allow them to take stand and situate themselves, in a democratic and responsible way, as well as, when it is the case, with scientific bases. A starting point of this dissertation is the idea that practices of collaborative work, involving the interaction among students in classroom dialogues contribute to develop that competences. A critical perception of the traditional education, experienced in a teacher trajectory in courses of preparation to access higher education gave place to a personal questioning that found echo in different theoretical references. Some of these references are already historical, as is the case of John Dewey and Anísio Teixeira, who conceived a vision of democratic education, other more recent as the dialogical and participative education of Paulo Freire, or as the education to the development of competences proposed by Philippe Perrenoud. This multiple view, that could be metaphorically considered ecumenical, qualifies the school scenery desirable for the sake of an education aiming emancipation. With this scenery as a perspective to be made real, it is then shown how physics learning can be conducted in a dialogical and participative way, without losses in the equally desired conceptual and practical formation in the scientific and technological contents. An important part of this work has been conducted in first year physics classes at an upper secondary school of a local community, trying to understand the complex and dynamical reality of social interactions in classrooms trough the application of pedagogical practices oriented by the Curricular National Parameters (PCN). The data were taken in a diary of classroom observations, even of classroom interactions between students, as well as from the analysis of works made by them in the form of written texts. A qualitative analysis allow the evaluation of such competences, producing a perception that, initially, the ability to face arguments were low developed, that the classroom interactions contributed to the development them, and that levels initially quite diverse, became gradually improved and similar, as a result of these activities.