Qual a conduta idealizada de um professor? Como se engendrou a maneira de atuar nas salas de aula e fora delas? Como foram estabelecidos os parâmetros de um governo eficiente do alunado? Autoridade, disciplina, cuidado com o grupo, instrução e conhecimento, didática e retórica, comportamento exemplar e moral ilibada: estes seriam alguns dos atributos necessários que despontariam em uma rápida reflexão sobre um professor idealizado. Tendo tal horizonte temático em vista, esta dissertação intenta problematizar a formatação da ética docente por meio de tais predicados, partindo do pressuposto de que a associação entre eles foi constituída historicamente, em resposta a demandas do século XIX. Para tanto, foram escolhidos quatro dispositivos empregados reiteradamente no cotidiano escolar com vistas ao controle de suas populações: a normatização e a vigilância das populações, o cuidado de si e a moralização dos costumes. A pesquisa levada a cabo desdobra quatro correlatos aos dispositivos acima citados, produzidos no interior de instituições católicas e incorporados, mais tarde, como práticas escolares laicas. São eles: a disciplinarização do sacerdócio via normatização escolar; a preparação eclesial ao pastorado; o aumento exponencial da aplicação do sacramento da confissão; e o ascetismo como comportamento de referência. Deste modo, optou-se por entender o funcionamento desses dispositivos, assim como sua emergência, de acordo com enfrentamentos que o corpo eclesial encarou no período das explosões das revoluções, da escalada hegemônica da ciência e da preponderância do secularismo. Uma das conclusões do presente trabalho é a de que, dentre várias práticas de religiosidade existentes no século XVIII (como o jansenismo e o regalismo), a que priorizou um missionarismo de base apostólica e educacional foi a preponderante na centúria seguinte, assumindo o papel de regeneradora da Igreja e de principal forma de exercício do poder da Santa Sé sobre suas populações. Tratava-se de fortalecê-la diante do desmanche das sociedades soberanas e dos questionamentos vigorosos acerca da tradição cristã. Para a Santa Sé, a educação parece ter sido a opção estratégica para manter sua autoridade sobre o mundo ocidental, ajudando a fazê-la transitar de um governo primordialmente soberano para outro mais adaptado aos embates com os Estados nacionais e com os enunciados científicos. Ao discutir a educação confessional propriamente dita, foram privilegiados como nossos objetos de estudo manuais de conduta sacerdotal bem como algumas encíclicas papais. Foi-nos considerado mais apropriado um esforço de diálogo metodológico, ao longo deste trabalho, com a perspectiva genealógica consagrada por Michel Foucault.

Which is the idealized conduct of a teacher? How the method of acting in the classroom and beyond was conceived? How the parameters for effective governance of the student were established? Authority, discipline, care with the group, instruction and knowledge, didactics and rhetoric, exemplar behavior and virtuous moral. These are some of the attributes that would emerge in a fast reflection about an ideal teacher. Taking this thematic horizon in mind, this dissertation aims to revise the shaping of the teaching ethics through such predicates, on the assumption that the association between them was formed historically in response to demands of the nineteenth century. For this we selected four devices repeatedly employed in the school quotidian in order to control their populations: the normalization and surveillance of populations, the care of the self and the moralization of the customs. The research develop four breaks related to the devices mentioned above, produced within Catholic institutions and incorporated later, as a lay school practice. They are: the disciplining of the priesthood by school normalization; the ecclesiastic preparation to the pastoral power, the exponential increase in the application of the sacrament of confession; and the asceticism as a reference behavior. Thus, we chose to understand the operation of these devices, as well as their appearance, according with the confrontations the ecclesial corporation faced during the explosion of the revolutions, the hegemonic rise of the science and the preponderance of the secularism. One of the conclusions of the present work is that among various practices of piety in the eighteenth century (such as Jansenism and Galicanism), the one that emphasized a missionarism with an apostolic and educational root, was predominant in the next century, assuming the role of regenerative Church and the main form of exercise the power of the Holy See on their populations. This strengthened it against the disorganization of the sovereign societies and the strenuous questionings about the Christian traditions. To the Holy See, the education seems to have been a strategic alternative in preserving its authority over the western world, helping to make it move from a primarily sovereign government to another more suited to clashes with the national states and the scientific statements. When we discuss the confessional education itself, the object of our study were the sacerdotal conduct manuals and some pope encyclicals. Throughout this work, we considered more appropriate a methodological dialogue with a genealogical and established perspective by Michel Foucault.