Esta tese trata da infância e de uma didática, aquela formulada por Comenius no entrelaçamento de A escola da infância, O labirinto do mundo e o paraíso do coração e Didática Magna, endereçada, de uma forma ou de outra, à infância. Por isso, pensa a didática no âmbito de um dispositivo de infantilidade, uma vez que ali se conjugam um tipo de saber, uma forma de poder e um modo de produzir o sujeito infantil. Daí a pergunta: de que modo a didática comeniana aquela arte didática, arte de ensinar produz a infância e seus modos de conhecê-la, conduzi-la e governá-la? O objetivo desta pesquisa é justamente inventariar e, de alguma maneira, problematizar, por meio das ideias foucaultianas em torno do poder pastoral e da governamentalidade, a produtividade da arte didática comeniana a partir das suas forças de criação: 1. a infantilização da infância; 2. o governo da infância (e de si) e 3. a escrita didática como um trabalho ético, estético e político, uma forma de pensar e de escrever em educação. Parece haver toda uma tecnologia da salvação em operação na didática da infância comeniana: conhecer, formar, conduzir, governar. Tecnologia do poder pastoral que se destina a todos e a cada um. Aos outros e a si mesmo, esse propósito maior desse tipo de poder. O outro, a criança, esse ser em formação, desde a tenra idade, para não se perder no labirinto do mundo, indivíduo que está sujeito à operação do poder pastoral. A si mesmo, a criança por ela mesma, aquela que conhece o caminho para a salvação e que adere a ele (Deus), aquele que se conhece, se guia, se governa, o indivíduo que se sujeita, ele mesmo, aos exercícios da pastoral educativa da arte didática. O que se tem aí é toda uma infantilização da infância em curso. Produção de uma identidade específica a criança educada, obediente, crente. Produção de um modo de vida infantil a criança sujeita à arte didática, a criança que se sujeita à arte didática. O que está em jogo ali é justamente ensinar aquilo que se é, aquilo que se pode ser. O infantil estaria, desde então, na mira dos adultos, em uma relação de dependência dos adultos, aqueles que inculcariam nos primeiros os valores, os códigos de uma vida conformada a toda uma rede de saberes e poderes em torno da educação. A infância como objeto da educação. O infantil a ser educado, a ser salvo, do mundo e dele mesmo. Assim, a infância foi-se fazendo na trama da escrita didática desde Comenius, essa peça de um dispositivo de infantilidade ocidental, que ainda estaria em curso.

This thesis deals with childhood and a didactic, that formulated by Comenius in the intertwining of his works A escola da infância, O labirinto do mundo e o paraíso do coração and Didática Magna, addressed in one way or another, to childhood. Due to this, this work thinks the didactic as part of a childlike device once it combines a kind of knowledge, power and a way of producing the child subject. Hence the question: how does a comeniana didactic that artistic didactic, the art of teaching produce a childhood and its ways of knowing it, leading it and leading it? The aim of this research is precisely identify and, somehow, problematize, through Foucaults ideas around the pastoral power and governmentality, the productivity of the artistic didactic comeniana starting from their forces of creation: 1. the infantilization of childhood; 2. the government of childhood (and oneself) 3. and the teaching writing as an ethical, aesthetic and political work, a way of thinking and writing in education. There seems to be a whole technology of salvation in the didactics of the comeniana childhood: knowledgement, grow, lead, govern. Technology of pastoral power that is addressed to anyone and every one. To others and oneself, this greater purpose for such power. The other, a child, who is in formation at an early age, to not get lost in the labyrinth of the world, an individual who is subject to the operation of pastoral power. The oneself, the child by herself, the one who knows the way to salvation and sticks to him (God), who is known, is guided, is governed, the one who makes (her)himself undergo the exercises of the educational ministry of didactic art. What you have there is a infantilization of childhood ongoing. Production of a specific identity a polite child, an obedient believer. Production of a childish way of life - the child within didactic art, the child who is subject to didactic art. What is at stake here is precisely to teach what one is, what one can be. The childhood would be, since then on target of adults in a relationship of dependence, those who would insert values in the ones previously mentioned (child), codes of a life conformed to a whole network of knowledge and power over education. The child as an object of education. The child to be educated, to be saved, from the world and himself. Thus, childhood was making up the net of didactic writing since Comenius, this piece of a device of Western childishness, which would still be ongoing.