Tendo por base teórica a perspectiva histórico-cultural do desenvolvimento psicológico humano, esta pesquisa investigou a constituição leitora de jovens nas camadas populares da cidade de São Paulo. A coleta de dados para análise consistiu de entrevistas com 13 sujeitos entre 17 e 31 anos, usuários de uma biblioteca comunitária na cidade de São Paulo. Inicialmente, buscou-se investigar a constituição de leitores literários. Uma vez em campo, alargou-se o espectro de investigação para outros leitores. Os resultados evidenciaram que o processo de constituição leitora não foi homogêneo, linear nem tampouco mecânico. Ao contrário, ele foi possível graças a configurações sempre singulares de fatores interdependentes que contribuíram para a gênese do interesse por ler. Dentre tais fatores estiveram: a freqüência de acesso a material impresso e sua qualidade; o poder de entretenimento desse material, em especial na infância, a identificação com a temática de algumas obras, e, por outro lado, o caráter exótico de outras obras; uma relação positiva com o saber e a percepção de si como excelente aluno; e acima de tudo as oportunidades de contato com leitores mais experientes O convívio com leitores mais maduros deu-se em diferentes configurações de âmbitos, os quais assumiram diversos graus de importância na constituição leitora de cada um. A maior parte dos sujeitos que tiveram oportunidade de conviver com tais leitores mais experientes durante a infância e adolescência na família, na escola básica, entre os vizinhos, namorados, ou no grupo de estilo tornaram-se leitores literários. Para os outros sujeitos a que se chamou leitores que não conviveram com leitores mais experientes ou o fizeram mais raramente, o desenvolvimento de práticas de leitura deu-se mais tardiamente, a partir dos 17 anos, quando encontraram tais mediadores mais experientes na biblioteca comunitária e se envolveram em projetos de transformação social, o que favoreceu o desenvolvimento do prazer e do sentido de saber. Do ponto de vista teórico, foram levados em consideração os estudos sobre leitura e letramento de Magda Becker Soares, Marisa Lajolo, Regina Zilberman e Ivani Ratto, as análises sociológicas de Pierre Bourdieu, Bernard Charlot, Bernard Lahire e Maria José Viana, as reflexões sobre a sociabilidade juvenil, a escola e os grupos de estilo realizadas por Marília Pontes Sposito e Juarez Dayrell e os estudos sobre a perspectiva vygotskiana do desenvolvimento humano, a escolarização e o letramento, conduzidos por Marta Kohl de Oliveira e Teresa Rego.

This qualitative study aimed at investigating the constitution of young readers in the working classes of São Paulo city, from the cultural-historical perspective of the human psychological development. Data collection consisted of interviews with 13 subjects aged 17 to 31, who are users of a community library. At first it aimed at studying the constitution of literary readers. In the field, the research spectrum was enlarged and included other readers. Results showed that the reader constitution process was not homogeneous, linear or mechanical. On the contrary, such constitution was possible thanks to singular configurations of interdependent factors that contributed to the genesis of an interest in reading. Among such factors were: the development of a positive relationship with knowledge and of a self-image excellent student; reasonably frequent access to printed material and its high quality; the entertaining power such material had, especially during ones childhood, ones identification with the theme of some works and, on the other hand, the exotic characteristics of other works; and most importantly, the opportunities of being in contact with more experienced readers. The contact with such more experienced readers took place in different ambit configurations, and each ambit had various degrees of importance for each persons reading constitution. Most of the subjects that had the chance to have contact with such more experienced readers during their childhood and adolescence in their family, at school and among neighbors, friends or in the style group became literary readers. Most of the subjects who did not have frequent contact with more experienced readers or did have it but only very rarely during their childhood and adolescence, did not develop reading practices until the age of 17, when they met such more experienced readers in a community library and were involved in social transformation projects, which favored the development of a meaningful and pleasant relationship with knowledge. Data was analyzed from the theoretical point of view of studies on reading and literacy by Magda Becker Soares, Marisa Lajolo, Regina Zilberman and Ivani Ratto, sociological analyses by Pierre Bourdieu, Bernard Charlot, Bernard Lahire and Maria José Viana, investigations on juvenile sociability, education and style groups by Marília Pontes Sposito and Juarez Dayrell, and studies on Vygotskys perspective of human development, schooling and literacy conducted by Marta Kohl de Oliveira and Teresa Rego.