Este estudo focaliza processos relacionados ao movimento atual de universitarização da docência, procurando descrever e caracterizar modos pelos quais professoras das quatro primeiras séries do Ensino Fundamental receberam, leram e se apropriaram de textos acadêmico-educacionais. A investigação foi realizada sob uma abordagem etnográfica e teve como referencial empírico o PEC-Formação Universitária, um programa de formação docente continuada em nível superior, implementado pela Secretaria Estadual de Educação de São Paulo em parceria com a Universidade de São Paulo, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e a Universidade Estadual Paulista. A partir de subsídios teóricos oferecidos pela história cultural, pela sociologia cultural, pela lingüística e, também, pela psicologia cognitiva, a leitura é entendida como resultado de relações dialéticas estabelecidas entre a ordem do discurso que se impõe e a apropriação do texto por parte do leitor. Nesse sentido, questiona-se: que representações, práticas e saberes estiveram envolvidos nas leituras que as professoras focalizadas realizaram dos textos acadêmico-educacionais que lhes foram dados a ler naquele contexto formativo? Como tais leituras as atingiram? Que efeitos os discursos então veiculados sofreram em função daquelas leituras? As observações e análises tecidas revelaram que a atuação de diversos dispositivos, presentes naquele ambiente bem como nos textos lidos, favoreceram a instauração de um 'novo padrão' de leitura - mais próximo ao modelo acadêmico - entre as professoras. Por outro lado, as posturas e os procedimentos por elas assumidos sugeriram a existência de uma leitura profissional propriamente docente caracterizada, entre outros aspectos, por uma racionalidade prática que lhes possibilitava, muitas vezes, subverter a ordem de discursos presentes naqueles textos e, assim, elaborar sentidos alternativos. Fatores identificados nessas relações das professoras com textos educacionais ensejaram considerações sobre a temporalidade dos usos nas leituras profissionais docentes, caracterizados por traços de mobilidade e de diversidade. Ademais, a centralidade de seus saberes e interesses práticos para a configuração das leituras de caráter profissional reafirma a importância da cultura pedagógica partilhada entre os professores, como fonte de conhecimentos mais pertinentes para o ensino e como eixo da formação docente.

This study focuses on processes related to the current movement of universitization of teaching, with the aim to describe and characterize ways by which primary teachers (Ensino Fundamental, cycles I and II) received, read and intook educational academic texts. This investigation was performed under an ethnographic approach and used, as empirical reference, the PEC - University Development, a teaching development program on College level, implemented by the São Paulo State Board of Education in partnership with University of São Paulo, the Catholic University of São Paulo and Paulista State University. From the theoretical underpinnings offered by cultural history, cultural sociology, linguistics and also by the cognitive psychology, reading is understood as the result of dialogical relations established between the order of discourse which imposes itself and the appropriation of texts done by the reader. In this way, the following questions are made: which representations, practices and knowledge were involved in the readings the teachers participating in the research did from the educational academic texts offered in that development setting? How did those readings affect them? Which effects did those discourses suffer, influenced by those readings? The observations and analyses done revealed that the acting of several mechanisms, presented in that context and in the texts read, enabled the implementation of a 'new reading pattern' - closer to the academic model - among the teachers. Moreover, the attitudes and procedures assumed by the teachers suggested the existence of a typical teacher's professional reading, characterized, among other aspects, by a rationality practice which many times enabled them to subvert the order of discourses presented in those texts and, thus, elaborate alternative meanings. The factors identified in the relations of teachers with the educational texts provoked considerations on the temporality of uses in the teacher's professional readings, characterized by mobility traces and diversity. In addition, the centrality of their knowledge and practical interests for the configuration of the professional readings reaffirms the importance of educational culture shared among teachers as a source of more appropriate knowledge for teaching and as a teaching development axis.