O autismo questiona as diversas formulações teóricas que se esforçam em compreender os processos implicados no desenvolvimento psíquico. O que propõe o método francês dos 3i como tratamento do autismo permite avançar as questões que o autismo coloca especialmente à teoria psicanalítica, com a qual uma articulação pode ser elaborada. Sendo a interação o objetivo das sessões 3i, algumas orientações são dadas aos adultos que intervém no sentido de criar momentos de encontro, dentre elas a de imitar a criança e a de não dizer não nas sessões. Propomos investigar os fundamentos dessas premissas a partir de uma articulação com o que se passa no primeiro tempo da constituição psíquica. Ao retrabalhar os primeiros encontros intersubjetivos, observamos que a imitação e a sintonia que lhes são característicos indicam que esses encontros são marcados mais pela semelhança e menos pela diferença. Nossa proposição é a considerar o outro desses primeiros encontros intersubjetivos como um outro suficientemente similar ao sujeito. Sendo o autismo uma clínica do tempo arcaico do psiquismo, pensamos que esse tipo de encontro onde a diferença não figura em primeiro plano remete a um tipo de relação com o outro que as crianças autistas são capazes de suportar. A partir do caso de uma criança autista atendida por 20 meses dentro dos moldes do método dos 3i, discutimos as implicações clínicas da nossa proposição. A discussão, que tem por eixos os princípios de intervenção propostos pelo método dos 3i, indica que a partir de encontros dessa natureza, possíveis à criança autista, o suficientemente similar pode tornar-se cada vez menos similar. A evolução do caso da criança atendida nos moldes do método 3i permite inferir alguns efeitos terapêuticos desse tipo de encontro, provocado por um outro que se apresenta inicialmente como suficientemente similar com a criança

Autism questions the several theoretical formulations that attempt to understand the processes involved in psychic development. What the French 3i method suggests as a treatment of autism allows to question further the psychoanalytic theory, with which a link can be proposed. Since the goal of the 3i therapeutic sessions is to establish interactions, a few orientations are given to adults to create moments of contact, for instance to imitate the child and to not to say "no" during the sessions. We propose to investigate the reasons of these assumptions in connection with what happens during the first period of the psychic development. When reworking the first intersubjective encounters, we observed that imitation and attunement that characterize them indicate that these encounters are marked by resemblance more then by difference. Our proposition is to consider the other of these first intersubjective encounters as a similar enough other. Being autism a clinic of the archaic period of psychic development, we think that this type of encounter where the difference does not stand out points to a type of relation with the other in a way that autistic children could accept. Based upon an autistic child that was seen for 20 months under the 3i method, we discuss the clinical implications of our proposition. The discussion, based upon the principles of the intervention proposed by this method, indicate that based on encounters of this nature, the "similar enough" can become gradually less similar. The progress of the child that was seen under the umbrella of the 3i method allows to infer some therapeutic benefits of this type of encounter, initiated by an other who presents himself at first as similar enough to the child