Os textos aqui reunidos foram escritos ao longo dos últimos cinco anos. Na sua maioria, são pequenos ensaios sobre pintura e pintores, geralmente publicados em jornais, revistas e catálogos. Muitos deles foram escritos a pedido de editores, redigidos para comunicações em seminários ou para acompanhar exposição de minha curadoria. Essas circunstâncias, acredito, ajudaram a criar o estímulo necessário à sua elaboração, que foi, a cada vez, um desafio a ser vencido. Estou certo também de que, a despeito dessa demanda externa, os temas e questões de que esses textos tratam, não se distanciam daquilo que constitui minha área de interesse, dentro do vasto universo da arte e da pintura. Esses escritos constituem a parte principal dessa dissertação. Exceto por dois textos, o primeiro, "Dentro e fora da pintura", no qual busco contar uma espécie de história informal do meu trabalho por meio dos seus temas, e o segundo, "Porque desenho", onde procuro estabelecer a relação entre meu trabalho em pintura e em desenho, evitei falar de mim de maneira mais extensa e demorada, tendo em vista as dificuldades habituais que o artista plástico enfrenta ao tentar acercar-se de sua própria produção. Como se sabe, a pesquisa artística segue caminhos diferentes da pesquisa acadêmica. Traçando rumos mais imprevisíveis, buscando seu sentido em algo ainda não de todo constituído, num incessante vir a ser, ela é diferente das pesquisas cujo campo de ação pode ser determinado de antemão e cuja margem de desvio é muito mais controlada, fatores que as tornam também mais facilmente comunicáveis. Uma das maneiras que encontrei para completar esse conjunto de textos, - também como uma forma de abordar melhor meu trabalho -, foi a de incluir, como anexo, quatro entrevistas que pude dar ao longo de vários anos, o que acabou por perfazer, acredito, um arco temporal que permite ao leitor identificar as mudanças e deslocamentos tanto do meu processo pictórico quanto do meu modo de compreendê-lo. Essas entrevistas também já foram publicadas, seja em jornal, revistas ou livro, seja acompanhando uma exposição dos meus trabalhos. Acredito que a forma da entrevista tenha tornado mais fácil, para mim, a aproximação do meu próprio trabalho. Sinto-me menos constrangido com ela, tal como ocorre quando escrevo sobre a produção de outro artista. Acredito, também, que a parte mais significativa do que apresento, seja o meu próprio trabalho prático. É ele, na verdade, que move o conjunto do que faço e penso, assim como é ele que talvez lhe possa conferir um sentido.