Esta pesquisa se norteou pelo questionamento acerca do papel e da relevância da revista mensal piauí, criada em 2006 e que parece trafegar na contramão de uma tendência jornalística atual, a dos textos mais curtos e de notícias instantâneas. A revista retoma uma tradição de longas narrativas, as chamadas grandes reportagens, valorizando a história, os personagens e, por que não dizer, o talento do jornalista, ao invés de centrar forças na técnica e no texto conciso. Dessa forma, piauí exige uma outra percepção de seu leitor, uma outra formação, além de requerer dele uma outra disposição para apreender as informações contidas em suas narrativas, dedicando um tempo maior à leitura e assimilação do lido. Mas há outro ponto a ser levantado: diferentemente de outras revistas de informação, piauí não se pauta pela explicação, análise e interpretação dos "grandes temas" da sociedade ligados ao agendamento, e sim vai trabalhar a sua produção de sentido e mediação a partir de personagens, histórias de vida bem contadas, a curiosidade, o personagem-tipo (e típico) - além de se pautar no texto bem-humorado e, por muitas vezes, irônico. Ela procura trazer aspectos inusitados de um determinado fato, além de oferecer a seus leitores outras maneiras de se informar ou de adquirir conhecimento. Nesse caso se inserem os contos, poemas, quadrinhos e textos abertamente fictícios (apesar de alguns procurarem, num tom divertido, parecer "factuais") que a revista publica ao lado de perfis, grandes reportagens e notícias inusitadas. Por isso entendemos que piauí encontra forte identificação com três publicações: as brasileiras Senhor (1959-1964) e Realidade (1966-1976) e a americana The New Yorker (fundada em 1925), que também serão analisadas e comparadas nesta pesquisa. Para levarmos adiante este trabalho, definimos nosso campo de pesquisa nas primeiras 24 edições de piauí - ou seja, nos seus dois primeiros anos de existência, posto que normalmente este é o período necessário para uma nova publicação se estruturar (ou não), criar seu público leitor e estabelecer e fundamentar seus critérios editoriais. São analisadas suas principais seções e suas grandes reportagens, a fim de se estudar como se dá sua produção de sentido. A revista não é estudada aqui como formadora de opinião, mas principalmente como informadora de uma parcela específica da sociedade.

The present research is interested in the role and relevance of the monthly magazine piauí, released in the year 2006, apparently taking the opposite direction when compared to the mainstream journalism current tendency: shorter texts and instant newsflashes. The related magazine draws back to the tradition of long stories, the so called long-form reporting, privileging the narrative, its characters and, why not say, the journalist's individual talent instead of focusing on the technique and on producing a more concise text. Thus, piauí demands from the reader another perception and another background. It also sets on him another disposition to learn the information present on its narratives, implying a longer period of time to its reading and assimilation. But there is still another matter to be raised about the magazine: apart from other informative magazines, piauí is not guided by the intent of explaining, analyzing and interpreting the "big social issues" related the agenda-setting. It develops its sense-making and its mediation through characters, well told life stories, curiosity, character types (and typical) - besides being driven towards a well-humored and, sometimes, even ironic text. It usually presents unexpected perspectives on a given fact, besides providing its readers with different ways of acquiring information or gaining knowledge. In this sense, we understand the inclusion of tales, poems, comics and other openly fictional texts (although, in a funny way, some of them try to seem "factual") published by the magazine right by the side of profiles, long stories and some unusual news. That is why we find that piauí can be identified to three other media publications: the Brazilian Senhor (Sir) (1959-1964), Realidade (Reality) (1966-1976) and the American The New Yorker (founded in 1925), which will also be analyzed and contrasted against each other on this research. We have drawn the first 24 editions of piauí as our field of study in the development - its first two years of existence, considering such period as just the right amount of time necessary for a new publication to be established (or not), to relate to a reading audience and to establish and consolidate its editorial criteria. We analyze the main sections of the magazine and its long stories in the search for its sense-making process. The magazine is not taken here as an opinion maker, but mainly as an information provider to a specific sector of society.