Esta tese de dupla titulação que tem por objetivo analisar o processo de institucionalização de partos cesáreos no Brasil e na França segundo uma perspectiva da sócio-clínica institucional. O referencial teórico-metodológico, em seu caráter dialético entre instituído e instituínte, permite aproximar o processo de institucionalização. O nascimento é, portanto, compreendido como um analisador das instituições "saúde materno-infantil" e da "educação em saúde". Esta pesquisa é parte de um estudo mais amplo sobre o nascimento no Canadá, na França e no Brasil. Os dados em que esta tese se baseia foram produzidos entre 2016 e 2019, no Brasil e na França. Isso foi feito por meio de grupos focais com pais e profissionais, entrevistas individuais com profissionais da saúde materno-infantil (e Comitê de Vigilância dos Óbitos Materno-infantil brasileiro), com mães e pais que viveram a experiência do parto. Um diário de pesquisa também foi mantido ao longo da investigação. Os grupos focais foram compostos de profissionais de serviços tradicionais e alternativos, de pais de diferentes extratos sociais. Cada grupo reuniu-se três vezes, num total de 12 reuniões que foram transcritas. Os aspectos éticos das pesquisas com seres humanos foram respeitadas. Foi realizada uma análise cruzada entre os diferentes tipos de dados, entre serviços, entre grupos e entre países, de modo contínuo, com base nos materiais produzidos. Três eixos de análises foram selecionados: 1) Nascimento por cesariana: um analisador da condição feminina face à medicalização, 2) das práticas e discursos profissionais e 3) da institucionalização do nascimento. Esses foram dispostos em quadros analíticos e organizados por grupo de entrevistados e cenários estudados. Em seguida realizaram-se sínteses horizontais das entrevistas, por grupos entrevistados. A análise também foi produzida durante o tempo de restituição aos participantes e foi baseada na abordagem de análise temática dos autores Mucchielli e Paillé. O Brasil e a França demarcam processos distintos. O Brasil é campeão em partos cirúrgicos sem indicação. A França, por sua vez, apresenta outra realidade, em que os partos são em sua maioria vaginais. Foi possível apreender que embora cada um dos países pesquisados tenha sua estrutura sanitária e educativa peculiar, são marcados por uma construção sócio-históricaeconômica delineada pelo patriarcado e subjugação feminina. As marcas da Nova Gestão Pública influencia ambos os contextos nacionais e tornando a prestação de cuidados de saúde precarizados num discurso quem predominam os imperativso econômicos. Em termos educacionais e de saúde, em qualquer um dos países, a gravidez é compreendida como um processo fisiológico e desenvolvido com inúmeras intervenções sobre o corpo feminino. As dimensões técnicas e organizacionais predominam reforçando uma divisão intelectual e social do trabalho e do saber em saúde. As práticas e discursos dos profissionais (em seu processo de trabalho) influenciam na ocorrência (ou não) do parto cesariano. A progressão ou regressão disso relaciona-se com o grau de implementação de ações medicais nas ações de saúde. No momento da realização dessa pesquisa doutoral, no Brasil há uma luta entre a institucionalização do parto cesariano em confronto com a sua desinstitucionalização. Na França, em relação às cesarianas há uma discussão sobre "cesariana ativa". Isso seria o movimento de institucionalização do parto cesariano nesse país?

This is these double/joint PhD degree thesis that aims to analyze the institutionalization process of cesarean deliveries in Brazil and France from the perspective of institutional socioclinic. The theoretical-methodological framework, in its dialectic character between instituted and instituting, unfolds in the process of institutionalization. Birth is therefore understood as an analyzer of the institutions of "maternal and child health" and of "health education". The present research comes from a larger study on births in Canada, France and Brazil. In this thesis, data were produced between 2016 and 2019 in Brazil and France, through focus groups, individual interviews with maternal and child health professionals (and the Brazilian Maternal and Child Death Surveillance Committee), with mothers and fathers who lived the birth experience and the research journal. The focus groups were composed of traditional and alternative health professionals, parents of different social backgrounds. There were 3 meetings of a total 12 meettings. Ethical aspects regarding research with human beings were respected. A cross-analysis was performed between different types of data, between services, between groups and across countries, continuously, based on the materials produced. The thematic axes were: Birth by cesarean section: 1) an analyzer of the feminine condition in the face of medicalization, 2) of the professional practices and discourses and of 3) the institutionalization of the birth. These were arranged in analytical frameworks and organized by group of respondents and studied scenarios. Then, horizontal syntheses of the interviews were performed for each interviewed groups. The analysis was also produced during the restitution time to participants and was based on the thematic analysis approach of the authors Mucchielli and Paillé. Brazil and France demarcate distinct processes. Brazil is champion in surgical deliveries without indication. France, for its part, presents another reality, in which births are mostly vaginal. It was possible to apprehend that although each of the researched countries has its own sanitary and educational structure, they are marked by a socio-historicaleconomic construction outlined by patriarchy and female subjugation. The marks of the New Public Management is present in both contexts and reveals a precariousness of offers and actions supported by a discourse of economic fragility. In educational and health terms, in either country, pregnancy is understood as a physiological process and developed with numerous interventions on the female body. There is an appreciation of the technical and organizational dimensions pointed by an intellectual and social division of work and knowledge in health. The practices and discourses of professionals (in their work process) influence the occurrence (or not) of caesarean section. The progression or regression of this is related to the degree of implementation of medical actions in health practices. In this way, in Brazil there is a struggle between the institutionalization of cesarean delivery in comparison with its deinstitutionalization. In France, regarding caesarean section there is a discussion concerning "active caesarean section". Would this be the institutionalization movement for cesarean delivery in this country?