O ponto de partida para este trabalho sobre a "janela" e a "moldura" advém da consideração de que estes dispositivos são simultaneamente objeto e pensamento. Ocupam um espaço teórico fundamental na cultura ocidental enquanto lugares de enunciação, de apresentação e de representação. Ao mesmo tempo que a janela é um elemento estruturante da gramática construtiva da arquitetura, ela pode ser entendida como metáfora para a moldura na pintura e, nesse sentido, este par conceitual encontra-se na base da formulação da visualidade e da espacialidade na cultura ocidental. Propomo-nos com o presente trabalho compreender a existência de uma correlação entre dois universos comparados (Pintura e Arquitetura), especulando sobre novas possibilidades de entendimento da "janela" na Arquitectura e da "moldura" nas Artes Visuais. Para tal, sugerimos o estudo de caso da obra dos artistas visuais Pedro Calapez e Rodrigo Andrade (desde os anos 80), tentando entender se a problemática da moldura (limite do plano pictórico) e da janela (enquadramento de paisagem/dispositivo arquitetônico) se pode constituir como paradigma no entendimento da prática destes dois artistas e daí especular sobre a sua possível correlação com a produção arquitetônica contemporânea. O estudo recairá incisivamente sobre a emancipação da obra de arte em relação aos seus dispositivos de apresentação tradicionais (moldura e pedestal), questão que marcou profundamente a espacialidade da arte ao longo do séc. XX, com o advento do modernismo. Partindo do texto "De pictura" de Alberti constrói-se um percurso histórico até à atualidade, onde se procura identificar e caracterizar os diversos momentos paradigmáticos dos conceitos de moldura e de janela. Esta análise encontra fundamento em textos de crítica, teoria de arte e de arquitetura, ao mesmo tempo que propõe o estudo atento de obras de diversos artistas visuais, com incidência especial sobre os estudos de caso referidos. Em suma, busca-se aprofundar discussões possíveis em torno das questões de profundidade, planaridade, transparência, opacidade, limites do plano, espaço pictórico, bem como da própria natureza do trabalho da pintura, para daí tentar encontrar pares correlativos na arquitetura.

The starting point for this brief study about the "window" and the "frame", comes from the consideration that these devices are simultaniously object and thinking. They ocuppy a fundamental theoretical place in Western culture as places of enunciation, presentation and representation. While the window is a structural element of the design of architecture grammar, it can be understood as a metaphor for the frame in painting, and in that sense, this conceptual pair stands in the base of the visual and spatial formulation, in Western culture. We try to understand the existence of a correlation between two compared universes (Painting and Architecture), speculating about new possibilities of understanding the "window" in architecture and the "frame" in the Visual Arts. To this end, we suggest the case study of the work of visual artists Pedro Calapez and Rodrigo Andrade (since the 80s), trying to understand if the problem of the frame (limit of the picture plane) and of the window (landscape framing / architectural device) can be taken as a paradigm for understanding the practice of these two artists, and then speculate on its possible correlation with contemporary architectural production. The study will adress incisively the emancipation of the artwork in relation to its traditional presentation devices (frame and pedestal), an issue that deeply marked the spatiality of art throughout the 20th century, with the advent of modernism. From Alberti's text, "De pictura", we build up a historical journey, up to our days, where we seek to identify and characterize the various paradigmatic moments of the frame and the window, as concepts. This discourse is based on critical art and architecture theory, proposing, at the same time, the careful study of works by various visual artists, with particular focus on the case studies mentioned above. In short, we seek to deepen the discussion about the concepts of depth, flatness, transparency, opacity, plan limits, pictorial space as well as the very nature of painting work, to then try to find correlative situations in architecture.