Apesar de possuir uma das maiores reservas água doce do mundo, o Brasil apresenta uma elevada concentração deste recurso hídrico na região norte, de modo que existe relativa escassez no atendimento de diferentes demandas, entre as quais a irrigação, o abastecimento humano e para uso industrial. No país, assim como em diversos locais do mundo, têm surgido propostas e implementações de políticas de cobrança pelo uso da água que, inevitavelmente, passam pela atribuição de um valor econômico para a mesma. A presente tese buscou, então, obter uma estimativa do valor econômico da água utilizada para suplementação hídrica das lavouras brasileiras, por meio de um modelo multissetorial de crescimento com poupança endógena em que se permitiu uma abordagem regional. O modelo foi calibrado para o ano de 2005 por meio de uma matriz de contabilidade social com discriminação da remuneração da água, e por meio de um exercício de decomposição do crescimento. Como resultado, obtiveram-se valores da água por meio de dois conceitos distintos existentes em uma perspectiva intertemporal: sua remuneração-sombra e seu preço-sombra. O primeiro pode ser associado diretamente aos valores presentes em políticas de cobrança pelo uso da água no Brasil, enquanto o segundo possui maior relevância do ponto de vista macroeconômico, pois permite obter o valor econômico de toda água utilizada no ano de referência, e está associado teoricamente à dinâmica do estoque de capital físico da economia justificando, assim, a metodologia empregada. Especificamente, maiores valores tanto de remuneração quanto preço-sombra foram identificados no grupo de "outras lavouras" - ou seja, lavouras que não correspondam às produções de arroz e de cana-de-açúcar - do centro-sul brasileiro, englobando, portanto, grande parte da moderna fronteira agrícola. Por outro lado, pequenos valores foram obtidos para a cana-de-açúcar também no centro-sul, que é a maior demandante de água do país, refletindo características agronômicas e institucionais presentes no setor, como o caráter desejável da restrição hídrica ao longo do desenvolvimento da cultura, e a grande disponibilidade de água cuja origem é a vinhaça que, por aspectos legais, acaba lançada à lavoura. Os resultados sugerem que políticas de cobrança possam adotar, além do critério regional, a própria atividade para qual a água se destina como determinante para o valor a ser exercido. Em termos do valor do estoque de água utilizado, a maior parte encontra-se nas produções de arroz e no grupo de outras lavouras, com pequena representatividade da produção de cana-de-açúcar.

Despite its large reserves of fresh water, Brazil has a high concentration of these hydrological resource in the north region, which makes it relative scarce for attaining various demands such as irrigation, human and industrial uses. In the country, as it is the case in many other places in the world, proposals and implementations of water charge policies have been discussed, and those inevitably depend on resource's economic valuations. Therefore, this thesis aimed to estimate the economic value of water in Brazilian irrigate crops by using a multisector growth model with endogenous savings, that also included regional disaggregation. The model was calibrated for the year 2005 through a social accounting matrix with explicit water remuneration, and a growth accounting exercise. The results are the monetary values for two different concepts were obtained: shadow-rent and shadow-price. The first one can be directly associated to current values in water charging policies in Brazil, while the second one is related to the estimations of all the water used in the base year, and is theoretically linked to physical capital stock dynamics, which justifies the use of the proposed methodology. Specifically, the highest values in both shadow-rent and shadow-price concepts were found in the aggregated sector "other crops", i.e., crops other than rice and sugar cane, in middle-south region of Brazil, thus comprising a large part of the modern agricultural frontier. Meanwhile, small values were found for sugar cane production, also in center-south region, the biggest user of water in the country, due to agronomical and institutional aspects of the sector, such as the desirability of water restrictions during plant development and the large supply of water from stillage that, for legal reasons, is applied to the crops. Additionally, referent to the regional approach, the results suggest that water charging policies could adopt the economic activity as parameter to establish the charged value. In terms of water stock value, the largest share of it comprises rice and other crops, while sugarcane is responsible for a lower share of total value.