Este estudo teve como principal objetivo analisar as medidas ambientais adotadas pelo setor canavieiro do Brasil e relacioná-las ao contexto da economia verde e do decoupling. Por economia verde entende-se a economia que objetiva a promoção do bem-estar e igualdade social, conjuntamente à redução da escassez ecológica e dos riscos ambientais. Para que as sociedades transitem de uma economia marrom, tal como a atual que se baseia no uso intensivo de recursos naturais, para uma economia verde, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) propôs diversas medidas a serem adotadas e, dentre estas, o incentivo ao desenvolvimento e uso de energias renováveis. A possibilidade de dissociação entre o uso de recursos naturais e/ou geração de impactos ambientais e a promoção do crescimento econômico constitui-se numa das bases para o "esverdeamento" da economia. Esta dissociação foi denominada na literatura pelo termo decoupling. A escolha do setor canavieiro para a análise da ocorrência do decoupling foi motivada pelo fato de que, além de ser um setor envolvido diretamente com a produção de etanol e bioenergia, ambos energias renováveis, a produção da cana-de-açúcar no Brasil tem se expandido nos últimos anos e gerado impactos ambientais como as emissões de gases de efeito estufa. Ademais, o etanol e a geração de bioenergia a partir da cana-de-açúcar são fontes de energia que estão sendo promovidas pelo governo brasileiro, o que consequentemente implicará em maior produção da cana e maior pressão ambiental. Para avaliar os impactos ambientais gerados pelo cultivo da cana-de-açúcar no Brasil utilizou-se como metodologia o cálculo de indicadores de decoupling, até então não calculados no país. Estes indicadores permitem a verificação da ocorrência do decoupling em um determinado setor produtivo ou na atividade econômica como um todo. Para o setor canavieiro, foram calculados quatro indicadores de impacto ambiental distintos, a saber, de uso de defensivos agrícolas (2000 a 2010), de uso de herbicidas (2000 a 2010), de uso de fertilizantes (1990 a 2010) e de emissões de gases de efeito estufa provenientes da queima da palha da cana-de-açúcar na fase de pré colheita (1990 a 2006). No caso dos defensivos e herbicidas, foram calculados indicadores de decoupling tanto usando dados de vendas de produto comercial quanto de ingrediente ativo. Apesar da não ocorrência do decoupling absoluto em nenhuma das variáveis analisadas, verificou-se algum grau de decoupling relativo em todas estas, principalmente em período mais recente. O resultado mais expressivo foi observado para as emissões de gases de efeito estufa. Ou seja, o decoupling está ocorrendo principalmente no impacto ambiental mais visível da produção de cana e que recebe maior pressão para ser eliminado, as queimadas. Ressalta-se que a literatura ainda carece de parâmetros de referência para a avaliação e comparação dos indicadores. O uso do controle biológico e a adoção de certificações ambientais são alguns dos fatores que podem contribuir para o decoupling na produção canavieira de maneira a torná-la mais sustentável.

This study aimed to analyze the environmental measures adopted by the sugarcane industry in Brazil and relate them to the context of the green economy and decoupling. Green economy means the economy that aims to promote the well-being and social equity, in addition to reducing ecological scarcity and environmental risks. For societies to shift from brown economy, as the current system that relies on intensive use of natural resources, to green economy, the United Nations Environment Programme (UNEP) proposes the adoption of several measures, namely the incentive for the development and use of renewable energy. The possibility of decoupling natural resource use and/or generation of environmental impacts and simultaneously promoting economic growth constitutes one of the bases for greening the economy. The literature names this dissociation "decoupling". The choice of sugarcane industry to analyze the presence of decoupling was motivated by the fact that, besides being directly involved with ethanol and bio-energy production, both renewable energy sources, this industry has expanded production in Brazil in recent years and, in turn, generated environmental impacts such as greenhouse gas emissions. Moreover, the Brazilian government has promoted ethanol and bioenergy generation from sugarcane, which will eventually result in higher sugarcane production and increased environmental pressure. To assess the environmental impacts generated by sugarcane cultivation in Brazil, the methodology proposed consists on measuring decoupling indicators, hitherto not calculated in the country. These indicators allow verifying the presence of decoupling in a particular sector or industry as a whole. For the sugarcane industry, this study calculated four environmental impact indicators, namely the use of pesticides (2000 to 2010), the use of herbicides (2000 to 2010), fertilizers (1990 to 2010) and greenhouse gas emissions from the pre-harvest burning of sugar cane (1990 to 2006). In the case of pesticides and herbicides, decoupling indicators were calculated using data for both sales of commercial product and the equivalent in active ingredient. Despite the environmental pressure over sugarcane cultivation in Brazil, decoupling has been only verified for greenhouse gases emissions from burning and from pesticides and herbicides use, measured by active ingredient. That is, decoupling occurs mainly for the most visible environmental impact of sugarcane production, the crop burning, which is the most targeted activity to be eliminated. The use of biological control and the adoption of environmental certifications are some factors that can contribute to decoupling of sugarcane production in order to make it more sustainable.